Matéria originalmente publicada no site RxLeaf e adaptada ao Weederia com autorização
Por Matt Weeks

Originalmente chamado de GPR55 em homenagem ao gene que o codifica, o receptor CB3 é uma descoberta empolgante para a ciência. Agora está claro que esse receptor faz parte do sistema endocanabinoide e interage com canabinóides endógenos e fitocanabinóides (como THC e CBD).

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Todos os animais, vertebrados e invertebrados, possuem um Sistema Endocanabinóide. Os receptores canabinóides são encontrados em todo o corpo. Então, onde o CB3 está se escondendo? 

Em primeiro lugar, os dois receptores mais pesquisados ​​são CB1 e CB2. Enquanto os receptores CB1 são proeminentes no sistema nervoso central, os receptores CB2 normalmente residem no sistema imunológico. Os receptores CB3 eram incógnitas, previamente identificados como GPR55. No início, a ciência não sabia que esse receptor até aceitava canabinóides.

O que é o receptor CB3?

O receptor CB3 ficou escondido dos cientistas porque é muito diferente dos outros receptores canabinóides. Ele compartilha apenas quatorze por cento da identidade de aminoácidos com eles. Simplesmente não parece que reagiria com a cannabis, então os cientistas em busca de novos receptores de canabinoides passaram anos por ele. O nome alternativo para CB3 é GPR55. Também é identificado como um receptor órfão. Essa designação significa que, embora o receptor tenha sido encontrado, a ciência ainda não sabe o que ativou esse receptor.

Quando o CB3 foi descoberto pela primeira vez em 1999, muitos duvidaram que fosse um receptor de cannabis. Não foi até que uma prova real apareceu anos depois (finalmente confirmada por meio de um estudo de 2008 publicado na revista PNAS) que os pesquisadores médicos aceitaram que o GPR55 era de fato CB3.

Agora, pesquisas mais recentes sobre o receptor CB3 estão inaugurando uma era de novas possibilidades que podem finalmente explicar os mistérios não resolvidos da medicina canábica.

Um olhar mais atento sobre o receptor CB3

O receptor CB3 é um receptor acoplado à proteína G que está espalhado pelo corpo e pode ser encontrado em abundância no intestino delgado. Este receptor canabinoide é mais densamente compactado na região do cerebelo do cérebro, que controla as funções motoras do corpo, como caminhar e falar.

Assim que foi descoberto, os cientistas tiveram que descobrir o que o receptor GPR55 fazia. As primeiras pesquisas, patrocinadas por empresas como Astra Zeneca e Glaxo Smith Kline, focaram no GPR55 como um possível mecanismo de controle da pressão arterial.

Com o tempo, no entanto, os pesquisadores começaram a entender que o GPR55 é um verdadeiro receptor canabinóide. Um estudo publicado no British Journal of Pharmacology (2007), [1] descobriu que vários canabinóides, incluindo o CBD, se ligariam ao GPR55.

Isso é importante porque não se sabe que o CBD se liga diretamente a outros receptores no sistema endocanabinoide. De acordo com um estudo publicado em (2007), o CBD tem “pouca afinidade de ligação para os receptores CB1 ou CB2, mas é capaz de antagonizá-los na presença de THC. [2] Isso pode explicar porque o CBD é um remédio para o consumo excessivo de THC. Ele agirá para reduzir quaisquer efeitos colaterais desagradáveis, como sensação de embriaguez, ansiedade elevada ou náusea.

Confirmando o papel do receptor CB3

Mas, foi só no estudo PNAS de 2008 que os cientistas aprenderam o que realmente acontece quando um canabinóide, como THC ou CBD, interage com GPR55 (o receptor CB3). Quando o THC entra no corpo e encontra um receptor CB3, ele se liga e isso resulta em um aumento no cálcio intracelular. Isso, por sua vez, inibe a corrente M no cérebro. Essencialmente, isso significa que as interações do receptor CB3 podem controlar a excitabilidade neuronal. Isso tem grandes aplicações para manter o funcionamento saudável do cérebro.

Além disso, esses são os primeiros passos para entender como o receptor CB3 funciona dentro do sistema endocanabinoide para influenciar a saúde do corpo e da mente.

O receptor CB3 e câncer

Com base nessa pesquisa, um estudo de 2017, publicado no jornal Oncotarget sobre câncer, [3] mostrou, sem dúvida, que a expressão do GPR55 se correlacionou fortemente com células cancerosas que estão prestes a metastatizar. Dessa forma, sua presença é como o canário na mina de carvão para o estadiamento do câncer.

Os cientistas raciocinaram que, se os receptores CB3 pudessem ser manipulados, provavelmente por canabinóides, eles poderiam ser capazes de interromper a propagação do câncer matando o dispositivo de sinalização das células cancerosas. Ou, dito de outra forma, a ciência agora pode saber onde procurar para decifrar o potencial anticancerígeno da cannabis.

Receptores de canabinóides e epilepsia

Outra pesquisa sobre o receptor CB3 enfocou a relação entre cannabis e epilepsia. Há muito tempo foi demonstrado que a cannabis tem propriedades anticonvulsivas. A primeira droga à base de cannabis aprovada pela FDA americana está sendo usada atualmente para controlar os sintomas da epilepsia, chamada Epidiolex. Na verdade, dezenas de pessoas que sofrem de convulsões tiveram suas vidas transformadas pelo óleo de cannabis.

No entanto, apesar dos muitos relatos anedóticos e volumes crescentes de pesquisa, ainda não há uma explicação satisfatória de por que a cannabis tem propriedades anticonvulsivas tão poderosas. A descoberta do receptor CB3 concentrado na parte do cérebro responsável pela função motora parecia uma pista promissora.

Em 2017, um grupo de cientistas, publicando na revista PNAS, abriu o conceito. Já foi confirmado que o CBD reduziu a frequência e a gravidade das convulsões em pacientes com Síndrome de Dravet. Mas, este novo estudo com roedores, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences dos Estados Unidos da América (2017), ((S Joshua, S Nephi, W. Catterall, R Westebbroek. (2017) Cannabidiol Attentuates Seizures and Déficits sociais em um modelo de camundongo da síndrome de Dravet. PNAS 114 (42) 11229-11234. Doi.org/10.1073/pnas.1711351114.) Foi um passo adiante ao explicar como isso funcionava.

Os próximos passos para o receptor CB3

A empolgação com um novo receptor canabinóide confirmado é uma boa notícia para a medicina à base de cannabis, bem como para a pesquisa geral sobre doenças. À medida que os cientistas passam a compreender o escopo total e a função do sistema endocanabinóide humano, eles estão mais perto de compreender um componente vital e multifacetado do sistema nervoso central. Quanto mais a medicina entender esse sistema, melhor será capaz de tratar várias doenças e distúrbios – seja por meio da cannabis ou de outro tipo de medicamento.

Curiosamente, outros compostos e moléculas podem ativar o receptor CB3. Existem lipídios e peptídeos que trabalham com o receptor canabinoide para fazer mudanças na neuroquímica do corpo.

A maior parte das novas informações que virão provavelmente explicará as funções comportamentais, vasculares e imunológicas da cannabis no corpo. Que novos tratamentos virão? É uma incógnita. Porém, conectar o receptor CB3 ao sistema endocanabinóide é algo que nos deixa muito entusiasmados!

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Referência:

↑1E Ryberg, N Larsson, S Hjorth, N-O Hermansson, J Leonva, T Elebring, K Nilsson, T Drmota, PJ Greasley. (2007). The Orphan Receptor GPR55 is a Novel Cannabinoid Receptor. British Journal of Pharmacology 152(7): 1092–1101. doi: 10.1038/sj.bjp.0707460.
↑2Thomas, A., Baillie, G. L., Phillips, A. M., Razdan, R. K., Ross, R. A., and Pertwee, R. G. (2007). Cannabidiol displays unexpectedly high potency as an antagonist of CB1 and CB2 receptor agonists in vitro. Br. J. Pharmacol. 150, 613–623. doi: 10.1038/sj.bjp.0707133
↑3M Mangini, E Iaccino, M Giovanna Mosca, S Mimmi, R D’Angelo, I Quinto, G Scala, S Mariggio. (2017). Peptide Guide Targeting of GPR55 for Anti-Cancer Therapy. Oncotarget 17;8(3):5179-5195. doi: 10.18632/oncotarget.14121.