‘Nossa, um evento sobre maconha!‘
Não foram poucas as vezes nas quais as pessoas que passavam por Pinheiros, zona Oeste de São Paulo, manifestaram tal surpresa. A palavra cannabis estava em destaque, na porta do espaço CIVI-CO e marcava a entrada do Cannabis Thinking, um dos maiores eventos sobre a erva que reuniu grandes nomes do Brasil e do mundo para debater a utilização medicinal, industrial e científica da maconha.
O evento contou com mais de 60 speakers, com nomes como o do neurocientista Sidarta Ribeiro, de William Dib, ex-presidente da Anvisa, Marcelo Demp, da Câmara de Cânhamo Industrial do Paraguai, Gastón Morales, presidente da Cannava Argentina, Janaína Lima (NOVO), vereadora em São Paulo, Daniel Coelho (CIDADANIA-PE), deputado federal, Rodrigo Mesquita, advogado, Juan Pablo Escobar, ativista e filho de Pablo Escobar, dentre outros grandes nomes da indústria e da pesquisa sobre cannabis.
– Precisamos de momentos como este para criarmos novas conexões, novas alianças – destacou o advogado Rodrigo Mesquita, também diretor jurídico da startup ADWA.
Com a presença dos principais players do mercado e de agentes do campo científico e social, o evento debateu por mais de 12 horas questões como a regulatória, educativas, de tecnologia, de ciência, de produtos e até de psicodélicos.
Uma das mesas mais aguardadas foi a que contou com a presença de Patricia Villela, do Humanitas 360, e de Juan Pablo Escobar, ativista pela paz e filho de um dos narcotraficantes mais famosos que já existiu: Pablo Escobar. E ele foi taxativo ao afirmar que a proibição e a guerra às drogas são os responsáveis pelo surgimento de traficantes como o seu pai.
– A proibição está ajudando os traficantes. Sem a proibição, nós não falaríamos de Pablo Escobar. Ele não existiria. Nós podemos colocar um ponto final nisso. Estão ajudando os traficantes com a proibição – declarou Juan Pablo durante o evento.
Juan Pablo ainda ressaltou que, apesar dos Estados Unidos estarem avançando na legalização da maconha, eles continuam a pressionar outros países para que lutem contra as drogas, criando uma enorme contradição.
– Existe muita contradição existe a legalização da maconha nos Estados Unidos e, por outro lado, eles exercem muita pressão nos países da América Latina para que eles continuem a guerra às drogas. Você está legalizando no seu país e está dando ordens para que continuemos a nos matar. Isso é uma grande contradição que precisa ser resolvida – declarou Juan Pablo.
Cannabis Thinking: Situação atual da maconha no país
Como não poderia ser diferente, o cenário brasileiro atual foi debatido por inúmeros agentes. O projeto de Lei 399/2015 foi pauta em algumas mesas, dentre elas a do ex-presidente da Anvisa, William Dib. Segundo ele, o projeto precisa de alguns ajustes e não deve ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.
O deputado Daniel Coelho, presente em outra mesa de discussão, ressaltou que há uma comodidade da elite brasileira e que isso faz com que projetos como o PL 399 não caminhem tão rápido como deveriam.
– Este é um debate cultural. Há uma comodidade da classe média, da nossa elite. Porque? O filho da elite ele fuma maconha nos principais bairros e não acontece nada. Se for negro e pobre na periferia, vai levar porrada, vai levar cacete. Então, há uma comodidade presente – destacou o deputado.
O depoimento do deputado Daniel Coelho foi um dos mais marcantes no debate do PL 399/2015. Ele contou como o óleo de canabidiol mudou a vida de sua esposa, que faz tratamento contra o câncer.
A vereadora Janaína, de São Paulo, também deu seu depoimento sobre como a maconha a ajudou a tratar crises de ansiedade e como ela tem enfrentado e buscado soluções para a cidade de São Paulo.
- É por isso que eu apresentei o projeto 569 de 2020 e o projeto 571 de 2021 na Câmara Municipal de São Paulo. O primeiro é para a gente instituir um centro de laboratório, de pesquisas e dados sobre a cannabis medicinal. E o segundo é para garantir que qualquer pessoa, seja epiléptica, seja com Alzheimer, seja com esclerose múltipla, tenha acesso à cannabis – ressaltou a vereadora.
- Iniciativas como a da Janaína, no plano local, têm uma potência, talvez, maior do que a gente imagina de maneira imediata – completou Rodrigo Mesquita.
Não somente iniciativas como a da vereadora Janaína, assim como o evento Cannabis Thinking, promovem mudanças na sociedade. Seja ela com ações concretas, seja normalizando a presença da maconha em ambientes públicos. Para que, nas próximas, a simples realização de um evento sobre maconha não cause tamanha surpresa na população local.