Matéria originalmente publicada no site El Planteo e adaptada ao Weederia com autorização
Por Hernán Panessi
Vamos dizer em alto e bom som: Captain Cannabis, ou Capitão Cannabis, é o primeiro super-herói da maconha da história.
Poderia ser assim?
“Até onde sei, sim”, diz o ilustrador canadense Verne Andru, a respeito de sua criação.
Na verdade, diz a lenda que seu primeiro esboço do Capitão Cannabis data de 1975 e, aparentemente, não há registros de um herói cannábico antes disso.
“O certificado de copyright do governo é de 20/04/1977, tornando-se o primeiro elo entre super-heróis, quadrinhos e o mundo 420”, diz Andru.
Em termos formais, o Capitão Cannabis é um produto de quando e onde.
“Eram os anos 60 e 70. Canadenses como eu, que moram na orla dos Estados Unidos, foram moldados pelos eventos que aconteceram ao sul da fronteira. E a cultura ianque filtrada por meio de notícias, TV, compras, comida e moda.”
“A verdade é que não tive muitas distrações além de criar uma história em quadrinhos”, reconhece ele.
O contexto
Inspirado nas falas dos mestres Robert Crumb (Zap Comix) e Gilbert Shelton (Os Fabulous Furry Freak Brothers), Verne se aventurou no underground canadense.
“Quando eu era criança, não acreditei nos quadrinhos de super-heróis convencionais. Pareceu-me que essas histórias eram violência estreita e glorificada. Minha opinião sobre os quadrinhos mudou quando vi uma pilha de quadrinhos underground em um headshop no início dos anos 70 ”.
Naquela época, essas lojas passaram a ser consideradas o epicentro da cultura do maconheiro e da contracultura em geral.
“Eles eram apenas um bando de hippies realizando seu sonho de vender lâmpadas de lava e camisetas tingidas”, ele brinca.
Assim, a contracultura pressionou o governo canadense a revisar a proibição das drogas no Senado. Em 1972, o Senado canadense emitiu um relatório recomendando a descriminalização da cannabis. A estrutura estava definida, a inspiração estava à mão: isso levou à criação do Capitão Cannabis.
Capitão Cannabis
Em 1975, sujeito ao burburinho em torno da legalização e dos quadrinhos independentes chegando ao seu ponto de ebulição, Verne publicou a primeira edição do Capitão Cannabis.
“Achei que a história deveria se situar em um mundo pós-proibição. Isso significava que os antagonistas tradicionais (narcóticos e / ou policiais) não estariam presentes no longo prazo. Você pode fazer uma série de histórias sobre agredir a polícia, mas não gosto de violência gratuita. Isso me fez cavar fundo para encontrar os elementos certos e fazer um herói sensível que poderia resistir ao teste do tempo”, disse Andru.
E como o CC foi recebido na época?
“Todos o amaram instantaneamente e seu futuro parecia garantido”, afirma o autor. “Tínhamos um público receptivo e uma rede de distribuição nas matrizes.”
Reviravolta na trama
Estrondo!
Por volta desses anos, o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, criou a DEA.
Quando Pierre Trudeau foi eleito primeiro-ministro do Canadá, sob a bandeira da descriminalização, os Estados Unidos ameaçaram fechar a maior fronteira desprotegida do mundo. A política progressista resultaria, portanto, em um duro golpe para o comércio entre os dois países.
Mais tarde, veio a guerra contra as drogas de Ronald Reagan. Prisões e proibições estavam à porta. “Das lojas à revista High Times”, descreve o artista
Sem mais delongas, Verne foi caçado, sob constante vigilância de seu próprio governo. “Descobri isso décadas depois, por meio de um pedido de liberdade de informação”, admite.
“O governo canadense fez o que faz de melhor: quebrar as promessas feitas aos cidadãos. Aqueles foram tempos sombrios”, Verne relembra com desgosto. “O filho de Pierre levou 44 anos para chegar ao governo canadense e cumprir essa promessa. Obrigado, Justin Trudeau”.
O que está acontecendo com o Capitão Cannabis hoje?
Andru conta com décadas de experiência no mundo da animação. Ele foi creditado em comerciais famosos, layouts desenvolvidos (e um grande número de detalhes técnicos) para o filme Rock & Rule (1983) e ilustrações para os quadrinhos do Capitão Canuck.
Enquanto isso, ele assiste regularmente a convenções e shows de quadrinhos. “Lá eu posso ver como os rostos das pessoas se iluminam quando recebem seu primeiro Capitão Cannabis”, diz ele.
Antes da legalização, em 2018, era muito difícil para ele encontrar espaços nas convenções para expor suas obras. “Houve uma mudança retumbante. Agora tenho pessoas super empolgadas com meu trabalho fazendo fila em meus estandes e … até pedem selfies!”
Capitão Cannabis: o filme
Depois de experimentar uma série na web, o boato de um filme do Capitão Cannabis começou a voar.
“Há várias ideias em andamento, mas nada foi lançado ainda. Terminei o primeiro roteiro em 2005 e usei-o como base para os 420 episódios em quadrinhos e web”, conta.
Em seu canal no YouTube você pode ver algumas das animações de conceito que poderiam estar presentes em um possível filme de super-herói.
“É uma versão bruta que dura pouco mais de duas horas, mas empurra a história para frente e é um passo importante na pré-produção”, reconhece.
Hoje em dia, após rejeitar algumas ofertas para fazer uma versão cinematográfica de baixo orçamento, o autor relançou as duas histórias originais do Capitão Cannabis: Roll Me Another One e Roll Me Another One Just Like The Other One.
Ele também está trabalhando em Captain Cannabis # 3. “Eu terminei os desenhos a lápis há algumas semanas e estou prestes a mergulhar na tinta.”
“Vivi tanto tempo com esses personagens que eles tendem a escrever sozinhos, então tenho muito mais histórias para contar”, acrescenta.
Ideais da Cannabis
“Ao criar o Capitão Cannabis, fiquei o mais próximo possível da cultura da cannabis. Pessoas que fumam relutam um pouco em lutar contra qualquer coisa. São descontraídos, preguiçosos, esvaziam a geladeira e desmaiam no sofá, mas brigar atrapalha muito”, avisa Andru.
A história do Capitão Cannabis é sobre uma variedade de erva intergaláctica que transforma um adorável vagabundo em um super-herói que salva a Terra. Para cumprir esta missão, o Capitão deve evitar que as pessoas se maltratem e sejam idiotas.
“O Capitão Cannabis é o primeiro super-herói dedicado à paz, ao amor e à compreensão. Ele é o super-herói que todos nós temos dentro de nós. Ele é um drogado criado no espírito dos quadrinhos underground. O Capitão Cannabis é tudo menos um herói típico da Marvel ou da DC Comics”, acrescenta.
Maconha legal
“Em primeiro lugar, a cannabis nunca deveria ter sido criminalizada. Ao contrário do que acontece com o álcool, a cannabis tem mostrado benefícios para a saúde física e mental”, avisa Verne.
E como ele vê o cenário global?
“Em geral, estou vendo um movimento progressivo. No entanto, ainda é incerto até que ponto as coisas vão mudar”.
Aos poucos, Andru fica feliz porque, depois de tanto esforço, depois de tanta discussão, seus livros estão à venda em todo o mundo. “Era algo impossível há muito tempo”, conclui o autor.
Seu material está disponível em http://www.captaincannabis.com
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