O carnaval passou, apesar de ainda termos mais um restinho das festas pós-carnaval, e mais um ano pela frente. Por isso, na coluna desta semana eu gostaria de falar sobre um assunto sério e que muita gente me pergunta: posso misturar maconha com álcool? Como médica, meu papel também é trabalhar a redução de danos e, por isso, vamos conversar um pouco sobre isso esta semana.
Sabemos do papel que o álcool ocupa em nossa sociedade. Dificilmente vemos um encontro festivo no qual ele não está presente. Mas, sabemos também do impacto negativo que ele pode causar quando há um abuso de seu uso, assim como acontece com tantas substâncias.
Em festas como o carnaval, seu uso é ainda mais frequente e incentivado, basta vermos o tanto de propagandas de bebidas que ocupam o nosso dia. Assim como o uso de cannabis também é maior durante as festas, uma vez que o ambiente de euforia leva as pessoas a buscarem mais euforia.
Mas, qual o real efeito em nosso corpo quando misturamos maconha e álcool?
Um estudo de 2015 descobriu que os participantes apresentaram níveis de THC no sangue “significativamente mais altos” quando usavam cannabis junto com álcool. Os cientistas também descobriram que o nível de THC no plasma aumentou de forma dependente da dose à medida que a quantidade de álcool aumentava.
Ou seja, o consumo de álcool pode aumentar a absorção de THC pelo corpo e, com isso, os efeitos dele também.
O consumo em excesso de bebida alcoólica pode causar mudanças no comportamento, alterar os níveis de açúcar no sangue, inflamações e estressar o fígado. Além de causar a desidratação. Quando consumido em conjunto com a maconha, a probabilidade de desidratação aumenta ainda mais.
Um estudo de 2021 descobriu que, quando a maconha era usada primeiro, havia uma tendência a consumir menos álcool e mais maconha. Uma outra pesquisa identificou que tanto o uso de cannabis quanto o de álcool em uma idade mais jovem (durante a adolescência) podem ter efeitos negativos e prejudiciais significativos no desenvolvimento do cérebro.
E quanto aos comestíveis? Por conta do início tardio, deve-se ser ainda mais cauteloso quando consumido em conjunto com bebida alcoólica. Pois, quando os efeitos começarem, você já pode ter bebido demais e, aí, pode ser tarde demais e estragar a sua festa.
Reduzindo danos
Bom, apesar destas considerações, sabemos bem que não é a primeira e não será a última vez em que maconha e álcool serão consumidos em conjunto. E, já que isso vai acontecer, o que fazer para minimizar os efeitos?
Hidrate-se muito. O álcool é um potente diurético e pode te desidratar rapidamente, assim como a maconha pode te deixar com a boca seca. Juntos, eles podem agravar os efeitos da desidratação. Por isso, tenha sempre uma garrafa com água por perto e beba bastante dela.
Saiba os seus limites. O consumo excessivo de maconha numa noite nunca matou ninguém diretamente. Mas, o consumo em excesso de álcool já levou milhares a internações e, também, infelizmente, a tantas outras mortes. Agora, indiretamente os efeitos podem ser ainda piores, principalmente àqueles que se esquecem das leis de trânsito e dirigem sob a influência de substâncias que tiram a sua acurácia no volante. Por isso, se beber, não dirija.
Outro fator importante: saiba o que você está consumindo. Os efeitos da maconha e do álcool estão, também, diretamente ligados à potência do mesmo. Bebidas com maior concentração de álcool quando misturados com concentrados de cannabis podem causar um estrago ainda maior.
Sua tolerância pode ser afetada pela potência do álcool e da maconha usada, portanto, lembre-se de que nem todas as misturas podem ter o mesmo efeito. Tanto quanto possível, saiba o que você está bebendo e qual cannabis você está usando, e deixe esse fator em quanto você consome de ambos.
Por isso, para ter uma festa legal e não cair no erro do consumo excessivo, tenha consciência do que está fazendo e de seus limites. Conheça seu corpo, converse com seu médico, e vá devagar sempre.
Dra. Amanda Medeiros Dias (Crm 39.234 PR) é médica com pós-graduação em pediatria e nutrologia pediátrica e, atualmente, está cursando Psiquiatria Infantil pelo CBI Miami. Possui Certificação Internacional Green Flower de Medicina Endocanabinoide.
Com experiência na prática clínica com crianças e adultos, visão integrativa olhando o paciente como um todo, possui experiência prática mesclando medicina com aromaterapia e cromoterapia, com foco na visão holística.
Além de prescritora, é paciente de cannabis medicinal desde 2018. Também é diretora técnica no Instituto Coração Valente e médica voluntária em projetos da UNA (Unidos pela Amazônia).
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