A utilização da cannabis na medicina vem conquistando cada vez mais espaço no Brasil e crescendo ano a ano. Posso sentir isso em meu consultório e os dados da Anvisa também demonstram isso. Cada vez mais pacientes e médicos estão abertos aos benefícios que ela pode proporcionar em um tratamento. Embora a maioria das pesquisas médicas confirme a eficácia médica e a segurança de sua utilização, assim como qualquer outro tipo de medicamento, as substâncias presentes nela podem apresentar contra-indicações para determinados casos. Vamos conhecer alguns deles.
Nós, médicos, ao prescrever alguma terapia, devemos levar em conta sempre os benefícios e os riscos potenciais deste tratamento. E com a cannabis não é diferente, ela apresenta contraindicações absolutas e contraindicações relativas.
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Contraindicação Absoluta
A cannabis é absolutamente contraindicada para pacientes com histórico de instabilidade psiquiátrica, que se manifesta em psicose aguda e condições semelhantes. Isso se dá, principalmente, por conta da ação do THC, ou tetrahidrocanabinol, o canabinoide mais abundante presente na planta e que está associado ao aumento do risco de transtornos psiquiátricos, incluindo psicose (esquizofrenia).
Como já vimos, o THC (o nome abreviado para tetrahidrocanabinol) gera muitos dos efeitos psicológicos que o corpo pode experimentar ao usar maconha. Ele interage com os receptores canabinoides no corpo humano, principalmente os associados à memória, prazer, pensamento e habilidades motoras.
Portanto, pacientes em estado de psicose não podem fazer uso de produtos de espectro completo, devido à presença do THC em sua composição. Nestes casos, deve-se primeiro estabilizar a condição do paciente para, somente depois, começar a administrar a terapia com canabinoides.
O THC também pode causar taquicardia, portanto é contraindicada para pacientes que possuem fibrilação atrial. Sua ação pode causar alterações na pressão arterial. Por isso, pacientes com doença cardíaca isquêmica, idosos com elasticidade arterial fraca devem sempre retratar isso ao médico para que o melhor tratamento seja aplicado.
Uma gama muito pequena de pacientes também pode desenvolver alergia a alguns compostos da cannabis. Desde rinite alérgica por conta do pólen até irritações na pele podem acontecer. Desta forma, é sempre muito prudente observar todos os sintomas do seu corpo após a administração do medicamento.
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Contraindicação relativa
A administração de cannabis também possui a chamada ‘contraindicação relativa’. E, o que é esta contraindicação? Bom, algumas pessoas possuem todas as condições para fazer uso da cannabis como medicamento, mas alguma condição externa a impede. Os atletas profissionais são um exemplo disso.
Vemos cada vez mais os benefícios da utilização da cannabis em atletas, principalmente pelo seu poder antiinflamatório e no combate à ansiedade. No entanto, apenas o CBD não está na lista das substâncias proibidas que são consideradas doping. Desta forma, apenas produtos que contenham o canabinoide CBD isolado podem ser ministrados para atletas.
Grávidas e lactantes também estão na lista das contraindicações relativas. O THC e seus metabólitos são excretados no leite materno. E, algumas pesquisas já indicaram que os bebês expostos à maconha durante a lactação tiveram pontuações mais baixas no Índice de Desenvolvimento Psicomotor em comparação com não expostos lactentes (os efeitos não podem ser separados da exposição pré-natal). Portanto, por ser um momento delicado, novas pesquisas sobre a ação, principalmente do THC, são necessárias para a compreensão do tema.
Existem também alguns efeitos colaterais, principalmente quando utilizamos o THC:
- Boca seca
- Náusea
- Vômito
- Reações de pânico
- Dormência
- Tontura
Portanto, é sempre vital que você converse muito com seu médico antes de iniciar o tratamento com a cannabis. Relate tudo para ele. Desta forma, o tratamento tende a ser mais assertivo e as chances de ocorrerem efeitos indesejáveis diminuem.
Dra. Amanda Medeiros Dias (Crm 39.234 PR) é médica com pós-graduação em pediatria e nutrologia pediátrica e, atualmente, está cursando Psiquiatria Infantil pelo CBI Miami. Possui Certificação Internacional Green Flower de Medicina Endocanabinoide.
Com experiência na prática clínica com crianças e adultos, visão integrativa olhando o paciente como um todo, possui experiência prática mesclando medicina com aromaterapia e cromoterapia, com foco na visão holística.
Além de prescritora, é paciente de cannabis medicinal desde 2018. Também é diretora técnica no Instituto Coração Valente e médica voluntária em projetos da UNA (Unidos pela Amazônia).
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