Conheça a história de Jéssica Camargo, diretora da Associação Divina Flor
Conheça a história de Jéssica Camargo, diretora da Associação Divina Flor

A utilização medicinal da cannabis tem crescido cada vez mais no Brasil. Com o auxílio da ciência, a sociedade tem compreendido o poder terapêutico desta planta, ainda que aos poucos. No entanto, existe uma figura chave para que o país pudesse sair da inércia em que estava e começasse a abrir as portas para a utilização da cannabis: a força e mobilização das mulheres.

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Quem não se lembra da luta pioneira de Katiele Fischer para que sua filha Anny tivesse acesso aos medicamentos à base de cannabis? Depois dela, muitas outras mães surgiram em busca deste medicamento para seus filhos. Algumas tentaram importar de forma legal ou ilegalmente, se arriscando. Outras, viraram verdadeiras jardineiras, ainda que com muito medo, plantando e produzindo o remédio de seus entes queridos.

Seja no Congresso, em debates, em casa, as mulheres foram fundamentais para a evolução da cannabis para fins medicinais no país. Por isso, receberei este mês três mulheres que são um exemplo e eu gostaria que vocês conhecessem um pouco mais da história delas.

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A primeira convidada é a Jéssica Camargo, mãe do João Miguel, designer e Diretora Executiva da Associação Divina Flor, de Campo Grande-MS e colaboradora na Associação Maria Flor (Marília-SP). Uma batalhadora, responsável por muitas pessoas voltarem a sorrir.

Divina história! 

Por Jéssica Camargo

Minha história com a Cannabis começa em 2009, quando eu tive uma Paralisia Facial do lado esquerdo (Paralisia de Bell), com 19 anos eu já havia experimentado a maconha fumada, mas até então não sabia dos seus benefícios, porque assim como quase todas as pessoas da minha época, tínhamos a visão de que a maconha era algo muito ruim para o nosso organismo de forma geral. 

Dra. Amanda apresenta: Conheça a história de Jéssica Camargo, diretora da Associação Divina Flor
Dra. Amanda apresenta: Conheça a história de Jéssica Camargo, diretora da Associação Divina Flor

Busquei todos os tratamentos convencionais, remédios, fisioterapias, tudo o que pudesse me ajudar naquele momento. E ajudou por um tempo. Durante todo esse processo eu também usava a maconha fumada, que me ajudavam a ver o problema com outros olhos, pois imagine você, eu com 19 anos, com a face completamente torta e a auto-estima lá embaixo, eu nem saia de casa.

A cannabis sempre foi uma companheira.

Passados 10 anos, a minha face recuperou cerca de 90% dos movimentos. Já nessa época (2019), eu passei a ler mais sobre a cannabis medicinal, em forma de óleo, para tratamentos de inúmeras enfermidades, e passei a estudar para entender como funcionava e como a cannabis poderia ter agido diretamente na minha enfermidade durante todos esses anos, mesmo sendo fumada.

Foi aí então que encontrei na internet o trabalho da CULTIVE, liderado pela Cidinha e seu Marido, pais da Clárian que tem Síndrome de Dravet. Eu li sobre a história deles, vi que poderiam me ajudar e fui atrás. Nessa época, meu filho João Miguel tinha apenas meses, meus irmãos tiveram que viajar comigo para SP, para fazer o curso e me ajudar a cuidar dele enquanto eu estava fora, foi o primeiro final de semana mais incrível da minha vida.

Quando cheguei no local das palestras, dei de cara com outras mães que estavam com seus filhos que tinham algum tipo de deficiência, umas sentadas no chão, outras nas cadeiras, outras em pé, mas todas cuidando do seu bem mais precioso, que eram os seus filhos. 

Aquilo foi impactante pra mim, que também sou mãe e sei o trabalho que dá ser mãe, e olha que meu filho é 100% saudável. Então, comecei a me colocar no lugar delas, por um instante senti o peso que é ser mãe de uma criança especial, e aquilo me pegou direto no coração. Assisti a todas as palestras muito atenta, inclusive tive a honra de conhecer o Dr. Carlini e tudo fez sentido.

Voltei dessa viagem com muita vontade de fazer a diferença, trouxe um pouquinho de cada mãe, de cada criança dentro de mim e isso se transformou em força, em vontade de lutar e poder ajudar mais e mais pessoas, mas como? Como eu ia fazer isso?

Ah, essa plantinha tem tanto poder, que foi só lançar para o astral que tudo começou a acontecer. Já em Campo Grande-MS, conversando com um amigo, lancei a ideia de que poderíamos fazer mais pelas pessoas com a maconha, perguntei se ele estava disposto a entrar nessa comigo e fazer essa história acontecer. No mesmo momento ele aceitou e já saímos em busca de um médico e um advogado para nos auxiliar.

Começamos com um pequeno grupo de estudos, FLOR&SER, com algumas pessoas que estavam afim de ajudar e colaborar com o avanço das pesquisas.

No ano seguinte voltei para São Paulo, só que dessa vez levei meus amigos canábicos e juntos fizemos de novo o curso da CULTIVE, que de fato me abriu todas as portas para esse novo mundo. Nos anos seguintes fiz alguns cursos de extração e aprendi a fazer o meu próprio remédio.

Mas, como nada na vida é fácil, entre idas e vindas para fazer a história acontecer, eu fui presa em fevereiro de 2020 com 100ml de óleo de cannabis e 200 gramas de flor in-natura, destinados a mim mesma e a alguns amigos que já tinham prescrição médica para o uso.

Ainda estou enfrentando todo o processo jurídico, mas isso não me tirou a força de continuar na luta, pelo contrário, foi a situação que eu precisava enfrentar para saber que aquele era mesmo o meu caminho. Passei cinco dias presa, foram dois na delegacia e três dias intensos no presídio feminino com 18 mulheres em uma cela 4×4 metros, não podia ser em vão.

Logo que sai do presídio, passei um tempo com minha família e voltei para Campo Grande com a ideia de formalizar uma associação. Depois de algumas reuniões, fundamos a DIVINA FLOR – ASSOCIAÇÃO SUL-MATOGROSSENSE DE APOIO E PESQUISA À CANNABIS MEDICINAL.

E aí começa uma nova história, por conta da minha prisão e da falta de regulamentação, eu tive que parar de produzir o meu próprio óleo, e tive que correr atrás de outras vias para ajudar aquelas pessoas que já contavam com isso todos os meses.

Mais uma vez o universo trabalhou e me chamou para vir conhecer o trabalho da Fernanda e do Márcio, que fica em Marília, interior de São Paulo. Márcio e Fernanda foram presos em 2018, também com óleo de cannabis, que estava sendo levado para um paciente com receita médica no estado do ACRE. 

Ambos foram condenados a 7 anos e 7 meses de prisão, injustamente, por conta de 6 frascos de óleo integral de cannabis. Márcio cumpre a prisão em regime fechado e Fernanda ainda aguarda o cumprimento da sentença, pois obteve o seu alvará de soltura para cuidar da filha que tem menos de 12 anos. Foram 3 anos separados, 3 anos com o Márcio em regime fechado e a Fernanda fazendo o que pode para ajudar o seu marido e as outras pessoas que também precisam do óleo. Fernanda conseguiu uma autorização para cultivar o remédio de seus avós e, com isso, hoje ajuda mais de 3 mil famílias que dependem desse remédio para ter o mínimo de qualidade de vida.

Com o marido preso e a demanda aumentando, Fernanda me convidou para vir morar com ela, aprender a cultivar, extrair e tocar uma associação.

Divina Flor

A Divina Flor existe oficialmente há 1 ano e 3 meses e atendemos cerca de 300 pacientes ativos entre humanos e animais. A equipe cresceu, somos 10 pessoas trabalhando em tempo integral e se dedicando a essa história, mesmo com todos os enfrentamentos, seguimos firmes e fortes da crença que tudo isso é só o começo.

As associações têm feito uma grande diferença nos avanço das pesquisas com a cannabis medicinal no país, através delas e das parcerias com universidades e institutos de pesquisa, milhares de pessoas estão tendo acesso e melhoria na qualidade de vida. É ciência.

Dra. Amanda apresenta: Conheça a história de Jéssica Camargo, diretora da Associação Divina Flor
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Divinas mulheres

Uma luta que vem das Mães, que fazem o possível e o impossível para ver o seu filho bem. Mulheres de força, de garra e muito amor e é isso que faz com que essa luta não seja em vão e que a cada dia que passa ganhamos um pouco mais de espaço, elas são a minha inspiração, Divinas Marias. Nunca duvide da força de uma mulher. Juntas somos muitas, a planta é feminina, sua força é feminina.

Hoje, eu coordeno a DIVINA FLOR a distância, junto com minha equipe maravilhosa, também composta por super mulheres, Fátima, Lígia, Larissa e Daiany, que são meus olhos e meus braços e também trabalho como colaboradora aqui na MARIA FLOR, com as super mulheres, Fernanda, Cláudia, Silvia, Carol, Drielly, Bruna, Rosana e Pepe. Que força e poder é estar e aprender todos os dias com essas mulheres, à frente de um projeto tão lindo como esse.

Juntas, enfrentamos todos os tipos de obstáculos que só nos dão mais forças para seguir. São 3.300 pacientes de todo o brasil e 450 pés de maconha que dependem da nossa garra, força e amor para vencer a batalha.

Esperamos que em breve a maconha possa ser regulamentada em nosso país e, assim, as pessoas não precisem mais passar por situações constrangedoras geradas pelo proibicionismo, para ter o mínimos de qualidade de vida.

Meu plano é continuar plantando, espalhando a sementinha do amor e da cura por aí, nos 4 cantos do mundo. 

Dra. Amanda apresenta: Conheça a história de Jéssica Camargo, diretora da Associação Divina Flor
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Gratidão

O trabalho desempenhado pela Jéssica e tantas outras jardineiras do país é de extrema importância. As associações são fundamentais para a democratização do acesso à medicina canábica e que, mesmo diante de tantos riscos, continuam a mudar o cenário brasileiro. 

E eu, como médica, estando do outro lado, podendo ver de perto o papel delas, só posso ser muito grata a cada uma. Agradeço também a Jéssica, que nos atendeu e com muito carinho compartilhou a sua história com a gente. Você, Jéssica, é uma jardineira linda, muito obrigado pelo trabalho desempenhado.
Acompanhem o trabalho da Jéssica e da Associação Divina Flor.
Instagram: @associacao_divinaflor

Conheça a Dra. Amanda Medeiros

Dra. Amanda Medeiros Dias

Dra. Amanda Medeiros Dias (Crm 39.234 PR) é médica com pós-graduação em pediatria e nutrologia pediátrica e, atualmente, está cursando Psiquiatria Infantil pelo CBI Miami. Possui Certificação Internacional Green Flower de Medicina Endocanabinoide.

Com experiência na prática clínica com crianças e adultos, visão integrativa olhando o paciente como um todo, possui experiência prática mesclando medicina com aromaterapia e cromoterapia, com foco na visão holística. 

Além de prescritora, é paciente de cannabis medicinal desde 2018. Também é diretora técnica no Instituto Coração Valente e médica voluntária em projetos da UNA (Unidos pela Amazônia).

Para entrar em contato com a Dra. Amanda Medeiros:

Instituto Coração Valente

E-mail: contato@institutocoracaovalente.com.br

Telefone – (41) – 99725-1582

Clínica Gravital

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