Por Hernán Panessi
O que é isso? A estampa sorridente de Bob Marley enfeita pôsteres, camisetas, skins e, agora, também, as paredes de seu mausoléu, em sua terra natal, a Jamaica. E o mural, feito em um dia e meio com uma mistura de spray e látex, foi criado pelo artista argentino Maxi Bagnasco, referência absoluta em muralismo na América Latina.
Onde ocorrer um evento global, haverá um argentino, é claro. Mas como Bagnasco chegou à Jamaica, berço do reggae, ganja e do movimento Rastafari? “Eu sempre pinto em Miami. No ano passado, fui pintar um retrato de René Favaloro. Tem muita gente lá que faz tour e tem um que é artista. Ele foi contatado por uma organização que conhece a família Marley, que queria fazer um retrato de Joseph, neto falecido de Bob Marley”, conta Bagnasco, com exclusividade para o El Planteo.
“Foi assim que cheguei, por meio daquele contato em Miami, que perguntou a ele sobre artistas que fazem retratos. Ele mostrou a ele vários artistas do mundo todo e os parentes do Bob queriam que fosse eu”, alardeia orgulhoso.
A oportunidade de pintar Bob
Inicialmente, Bagnasco fez um mural do neto de Bob Marley, baseado em uma imagem compartilhada por sua família. Foram seis dias de trabalho e, como faltavam dois dias no país, o artista nacional resolveu aproveitar e pintar o próprio Marley.
“Eu estava lá, parei onde estão os restos mortais de Bob Marley, sua mãe e seu neto, na Reggae Land, Nine Mile. Não é um hotel, mas fiquei para dormir lá. Que honra estar dormindo lá. Obviamente, o desafio era prestar homenagem a alguém que já faleceu. Todos os Marleys são importantes para a cultura reggae e para todos os rastafaris”, diz Bagnasco.
Nine Mile é um distrito localizado na paróquia de Saint Ann, alguns quilômetros ao sul de Brown’s Town, um lugar onde está toda a cultura Rastafari e seu povo.
O endosso do ambiente reggae
Infelizmente, durante os seis dias em que Bagnasco esteve na Jamaica para pintar o mural, ele não pôde conhecer pessoalmente a família de Bob Marley. No entanto, ele recebeu mensagens do filho nas quais afirmava estar “muito impressionado e grato por seu trabalho”.
“Muitas pessoas do reggae e muitas pessoas conhecidas de lá me enviaram seus comentários. Mais tarde, quando saí, alguns dias depois, a família me disse que gostava muito do meu trabalho. Ter estado lá, morar em um lugar diferente, passear e as pessoas me apreciarem, foi muito bom. Algo totalmente diferente.”
Por isso quis deixar a sua marca e prestar-lhes a melhor homenagem possível. Inclusive, se virando com os materiais que conseguiu por lá. “Como argentino, a gente se vira com o que vier: foi o que aprendi aqui no país. Fiz o que pude na Reggae Land, o lugar mais sagrado da Jamaica.”
Bagnasco sempre ouviu reggae, então esse link para “Tuff Gong” era natural para ele: Los Cafres, Los Pericos, Nonpalidece, Cultura Profética, Gondwana do Chile e Natiruts do Brasil. “E, bem, Bob Marley. Passei muitas férias ouvindo isso.”
De resto, a atividade artística de Bagnasco está em ascensão, já que pintou lendas crioulas como Diego Armando Maradona, Leo Messi, Mercedes Sosa e Astor Piazzolla, entre outros.
“Pintei várias figuras e faltam muitas outras. Parece super importante para mim que toda vez que pinto alguém, as pessoas sintam isso como uma verdadeira homenagem”, diz ele. “Vou continuar pintando argentinos”, encerra. Ande bem.
Matéria originalmente publicada no site El Planteo e adaptada ao Weederia com autorização