Matéria originalmente publicada no site El Planteo e adaptada ao Weederia com autorização
Por Hernán Panessi
Um grupo de empreendedores sociais, voluntários universitários e especialistas em tecnologia solar, em conluio com lideranças locais, uniram-se para promover o desenvolvimento de energia sustentável no Morro da Babilônia e Chapéu Mangueira, duas das maiores favelas do litoral sul de Rio de Janeiro.
“Os moradores das favelas sempre têm dificuldade de acesso à energia. E, além disso, o preço é muito caro, a qualidade do abastecimento é ruim e cai quase todos os dias”, afirma Eduardo Ávila, diretor executivo da Revolusolar, o projeto que visa trazer um novo modelo de energia acessível e comunitário às favelas, sustentável e autogerida.
Globalmente, a tecnologia solar está evoluindo favoravelmente e, dizem os responsáveis pela Revolusolar, “é totalmente adaptável às favelas e resolve um problema histórico que impede o seu desenvolvimento”.
Problemas elétricos, dilemas cotidianos
Desde o início, a Revolusolar se configurou alinhando-se às demandas dos moradores das favelas. E, desde 2015, vem construindo soluções com a melhor recepção possível. “Essa percepção dos problemas vem deles e um dos maiores dilemas do dia a dia das favelas é a questão da energia elétrica”, diz Ávila.
Para se localizar, a Revolusolar conta com a liderança da liderança da comunidade e residentes. Assim, o projeto conta com uma equipe que atua in loco, dentro da comunidade. E, por sua vez, as comunidades criam cooperativas independentes. “Eles são responsáveis por projetar as melhores soluções junto conosco, eles também fornecem suporte técnico e são capazes de melhor comunicá-lo aos moradores”.
Da mesma forma, a Revolusolar também está oferecendo treinamento em energia solar (para formar novos profissionais) e educação ambiental para crianças e jovens (para democratizar o acesso à informação verde).
O ‘olho cego’ do governo Bolsonaro
Por exemplo, uma das principais dificuldades que a Revolusolar atravessa é a falta de cooperação com os governos. “Estamos tentando resolver esse problema e criar uma relação com o governo. Mas eles não têm essa visão: nem o governo federal, nem o governo estadual. Já tivemos até conversas, mas nada de concreto ”, diz o diretor executivo.
Hoje, eles mantêm expectativas para a nova gestão do governo municipal, que tem um espírito mais progressista do que seu antecessor. “Temos cooperação técnica com a Secretaria de Meio Ambiente, mas não temos apoio financeiro ou acesso a materiais. A situação política no país tem que mudar para que isso aconteça. Com o atual governo de [Jair] Bolsonaro, isso é muito difícil”, diz Avila.
Favelas na pandemia
Cerca de 80% dos moradores da favela são autônomos, desempregados e perderam quase toda a renda com a pandemia. Portanto, os moradores da Babilônia e Chapéu Mangeuira se uniram para arrecadar fundos e comprar cestas básicas, artigos de higiene e medicamentos para mitigar cooperativamente os efeitos devastadores da COVID-19.
E, embora atualmente, com o avanço da vacinação, a atividade econômica pareça estar lentamente se retomando, ainda não existem dados socioeconômicos concretos sobre o impacto da pandemia nas favelas. Ávila explica: “Em termos econômicos, a situação é difícil. E, em termos de saúde, muitas pessoas morreram”.
Para colaborar perante esta fragilidade, a Revolusolar já instalou energia solar em duas lojas comunitárias, num hostel, num restaurante e na escola local, beneficiando mais de 50 famílias. “Agora, pela primeira vez, com a cooperativa vamos instalar equipamentos em residências particulares, para beneficiar mais de 35 famílias da Babilônia e Chapéu Mangeuira”.
O fato: aproveitar o sol com a instalação desses painéis solares significa uma economia de pelo menos 30% na conta de luz.
Modelo replicável e um norte possível: 2030
Nesse sentido, o principal objetivo da Revolusolar é promover o desenvolvimento sustentável das comunidades por meio do uso da energia solar. Neste momento avançam no modelo de desenvolvimento que envolve instalação e formação profissional, tanto para instaladores como para electricistas. “Esse é um modelo que pode ser replicado em outras comunidades e esse é o principal objetivo que temos para os próximos anos”, confirma.
E, de fato, por sua própria natureza, o projeto pode se expandir para outras comunidades. Não só favelas, mas comunidades de baixa renda, quilombolas e povos indígenas que têm problemas semelhantes de acesso à energia e que, por sua vez, têm potencial semelhante no que diz respeito ao uso do sol.
“Nossa visão é, até 2030, nos tornarmos referência em energia sustentável para o público de baixa renda na América Latina”, finaliza Ávila.