Por Hernán Panessi 


Os tambores afro-uruguaios trovejam. Tum, batumba, tum. Um conjunto musical vestido com esmero abre caminho lentamente pela multidão. Na entrada, há curiosos e há pechinchas. Sente-se um cheiro de baseado e há muito, muito mais gente do que no primeiro dia. Assim, por meio de nuances, estímulos e experiências, a ExpoCannabis Montevidéu se consolidou como uma das exposições mais divertidas e versáteis da América do Sul.

Uma vez lá dentro, a presença onisciente de Lelen Ruete, ícone da moda rioplatense e fotógrafa de cannabis, oferece alguns de seus lenços. Pose para uma foto, mostre seu look, diga olá com beijos.

ExpoCannabis Montevidéu, confira como foi o segundo dia de evento
ExpoCannabis Montevidéu, confira como foi o segundo dia de evento

Por ali, entre um corredor e outro, Edgar Allan, o palhaço do Lion Rolling Circus, floresce com sua estilo imponente e distópico. No palco, o show ao vivo de Dostrescinco surpreende um casal europeu e, mais longe, na área gastronômica, alguns garotos analisam um hambúrguer com batata e reclamam do preço. “Não é tão bom, bo.”

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Quintal cheio, pessoas sentadas na grama verde. Não cabe mais um alfinete. Um pequeno grupo de jovens que sai do céu azul se refugia dentro da Expo e deita para descansar no estande do banco de sementes da Poison Seeds. Aqui você anda, fala e, quando quer, dá um tapa no baseado. “O que mais”, comemora uma garota, balançando a cabeça.

No chão, um tapete amarelo te recebe. É o estande da Insumos Cultivadores, importadora e distribuidora de insumos para cultivo no Uruguai. “Este ano não estamos vendendo, apenas expondo”, afirma Paula, Assistente de Contabilidade da Insumos Cultivadores, ao oferecer um catálogo colorido e destacando as virtudes da Nanolux, Top Crop, Bluelab, Bóveda, entre outras marcas de seu portfólio.

De volta ao pátio, os ilustradores Agustín C.E. e Guillermo Fernández Villa fazem um desenho cósmico e psicodélico. “Tem pouca gente fumando maconha”, alguém resmungou quando eles passaram.

Conversas indistintas são ouvidas em português. Um, dois, mil. Enquanto isso, o jornalista brasileiro Vinicius Bordin, do site especializado Weederia, conta que comboios chegaram de de Florianópolis e São Paulo exclusivamente para a Expo.

Ali perto, algo chama a atenção de alguns curiosos que pululam na área: são Juan de Tambo Farms e Silvana, sua sócio e companheira, mostrando o tamanho de algumas sementes de Jack Skellington, uma das joias de sua autoria. De sua boca: “Essas sementes chegaram à Argentina, mas sem meu conhecimento. Lá chamaram de Tambo Jack, em homenagem ao Tambo e ao ator Jack Black, porque dizem que me pareço com ele”.

ExpoCannabis: Não pare, vá em frente, vá em frente

Entre as novidades, o estande Twenty Four K, um projeto de roupas sustentáveis. “Criamos peças com designs que remetem à cannabis, cogumelos e ecstasy. Também temos projetos educacionais, com mensagens de cultivo e redução de danos”, afirma o brasileiro Breno, dono da marca, que faz sua estreia na Expo e, além disso, está passando o segundo dia de vida da 24K.

E, por vários motivos, Breno está feliz: neste pontapé inicial já vendeu mais de 70 camisetas (a um preço médio de $ 1.500 pesos uruguaios) e mostrou sua produção de algodão e cânhamo (a 5%).

Com um sorriso, Javier Arce da Sanlight, uma empresa austríaca de iluminação LED, explica as várias qualidades do seu produto: “É eficiente com poucos recursos. Possui um sistema modular que ajuda a se adaptar a qualquer cenário. Fornece 100.000 horas de luz. E consome muito pouco”, destaca. E a Expo? “Vim pela primeira vez em 2018, com outra marca, e vejo que cresceu notavelmente.”

Um jovem vestido de Jesus Cristo desliza placidamente nos elos que unem um setor ao outro. “Posso tirar uma foto com você, Jesus?” Clique, flash e bênçãos. Mais adiante, um grupo de pessoas mostra uma das maiores curiosidades da Expo: um sorvete com gotas de chocolate e um novelo de churros ao redor.

ExpoCannabis Montevidéu, confira como foi o segundo dia de evento
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“Vocês comem isso no Uruguai?” É normal?

—Não, a verdade é que esta é a primeira vez em vida que o vemos.

“Onde eles compraram?”

-Lá.

Pronto: o dedo aponta para a carreta do El Helado Más Churro, lúdica aventura gastronômica que mistura sorvete de creme com churros. “Eles são vendidos no México e nos Estados Unidos. Somos os únicos que os fazem no país”, confirma Marcelo, seu proprietário. 

Sentado em um banco, Leonardo Rebelo, diretor da Flor de Minas, pequeno projeto de cannabis medicinal em Minas Gerais, conta a jornada que teve que de enfrentar para chegar à Expo (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Floripa, Chuí, Montevidéu) e fala sobre os sofrimentos de seu filho com convulsões e de seu pai com câncer. E como, por meio do óleo de cannabis, ele conseguiu ajudar a melhorar a qualidade de vida de ambos.

A história é mais verde

Ali, ao lado do estande da BSF Seeds, um dos mais importantes bancos de sementes do mundo da cannabis, Matías e Lua, da Matca Filmes, preparam as câmeras, lentes e baterias. “Viemos fazer um documentário de 3 minutos com tudo o que está acontecendo na Expo. Vai ser uma viagem por toda a exposição, com o nosso olhar embriagado”, afirma Matías. E continua: “Tudo isso é incrível.”

ExpoCannabis Montevidéu, confira como foi o segundo dia de evento
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Na porta ao lado, atrás de algumas cortinas, em uma salinha privativa da BSF Seeds, Mariano Duque Velasco passa algumas músicas. Toca “Akapelinho” do rapper venezuelano Akapellah e todas as cabecinhas movem-se ao seu ritmo.

Ali mesmo, sentada em algumas poltronas, a mexicana Polita Pimenta, diretora-geral da Cannativa, projeto de educação integral da planta como alternativa terapêutica, comemora a existência da Expo e fala sobre algumas falhas políticas de seu país. “Educação é transformação social”.

Assim, enquanto alguns bolam os últimos baseados do dia, Mariano sai das bandejas e os jornalistas presentes olham com carinho para um shawarma bem temperado, uma narração antecipa o pôr do sol: “Acabou o segundo dia de ExpoCannabis. Nos vemos amanhã”.

E, quase como um ato reflexo dos meninos, como uma resposta automática àquele pedido que ninguém quer abraçar, um punhado de gente enrolam um baseado e gritam em uníssono “nããão!”. Como um choro, como um apelo, como um irremediável uma agonia final.

Matéria originalmente publicada no site El Planteo e adaptada ao Weederia com autorização