Nos dias 9 e 10 de julho a Fiocruz e a Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi) vão promover, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o seminário internacional Cannabis amanhã: um olhar para o futuro. O evento buscará estimular o debate sobre o acesso, pesquisa e regulamentação do uso da cannabis para fins medicinais. As inscrições já estão abertas.

As pautas serão distribuídas em mesas temáticas, que contarão com participação da audiência e apresentações de trabalhos acadêmicos. O custo da guerra às drogas, os usos tradicionais da cannabis, sua importância no futuro da medicina e na qualidade de vida de pacientes com autismo, psiquiatria e em tratamento paliativo, por exemplo, serão alguns dos tópicos abordados no evento.

“Temos trabalhado para visibilizar as evidências e informar, do ponto de vista científico, para que a gente supere o enviesamento e o preconceito em relação à criminalização. O seminário busca mostrar que os estudos estão avançando e temos evidências do uso do óleo de cannabis, dentro e fora do Brasil, com eficácia comprovada. Queremos consubstanciar o debate para que ele mostre a importância do uso medicinal da cannabis e permita a geração de políticas públicas nesta área, à luz de marcos regulatórios como a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicas, a política de práticas integrativas e complementares e as farmácias vivas”, explicou Hayne Felipe, pesquisador da Fiocruz e coordenador do Grupo de Trabalho Cannabis Medicinal.

O coordenador de Relações Interinstitucionais da Fiocruz, Valcler Rangel, destacou a importância da colaboração com a Apepi para a Fundação. Para ele, a instituição tem a responsabilidade de estimular pesquisadores a se aprofundar no tema e pode fazer isso por meio de parcerias entre suas unidades.

“Temos também um projeto chamado ArticulaFito, parceria da Fiocruz com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em que a avaliação de cadeias de valor em plantas medicinais ganha destaque para a criação de alternativas na geração de renda e inovação em biodiversidade, seguindo os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 2030. Também é importante que a gente passe a observar experiências municipais, como é o caso do ambulatório de Búzios premiado numa cooperação entre o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde e o IdeiaSus, projeto da Fiocruz que atende pacientes com o óleo de cannabis”, disse Rangel, que completou: “quanto mais a gente der visibilidade a essas experiências, mais conseguimos ter pesquisadores olhando para esse tipo de prática, de modo que as secretarias municipais dentro do SUS vejam essa terapia com cannabis medicinal e possam implantá-la e em outras unidades da Federação”.

Para a diretora e fundadora da Apepi, Margarete Brito, a parceria entre a associação e a Fiocruz na promoção do seminário representa a união de esforços de duas organizações com expertises que se complementam. Para ela, a iniciativa é fundamental para promover a conscientização sobre a importância de lidar com a cannabis como uma questão de saúde pública.

“A Fiocruz, além de ser a principal instituição de pesquisa na área de saúde pública, tem uma reconhecida estrutura de P&D na área de Produtos Naturais, alinhada com a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos aprovada em 2006 pelo Governo Federal. Já a Apepi é hoje a segunda maior associação de cannabis medicinal no Brasil, com três mil associados, e a primeira na Região Sudeste a ter autorização para plantar, manipular, fornecer, pesquisar cannabis para fins medicinais”, explicou.

Margarete fundou a associação após sua filha ser diagnosticada ainda bebê com uma doença rara que causa crises convulsivas constantes. Sua família foi a primeira no Brasil a conseguir uma liminar na justiça para plantar cannabis e fazer o óleo utilizado para melhorar sua qualidade de vida. Ela destacou que, nesta edição, a Apepi firmou convênios oficiais com instituições públicas de pesquisa, possibilitando o acesso de alunos de mestrado e doutorado a estudos sobre cultivo e produção da cannabis no Brasil. Além da Fiocruz, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o Instituto Jardim Botânico e o Instituto Federal do Rio Grande do Sul fazem parte da parceria.

“Além das pesquisas em andamento, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) lidera o projeto Redes Fito, coordenado pelo Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS). Essa iniciativa, pioneira no país, visa à articulação de todos os atores sociais envolvidos na produção de fitomedicamentos (pequenos agricultores, pesquisadores e grande indústria)”, lembrou.

Esta será a terceira edição do seminário. Em 2018, o evento ocorreu no Museu do Amanhã e contou com participantes de Chile, Colômbia, Uruguai, Canadá, Holanda, Austrália, EUA e Brasil. Em 2019, no Instituto Europeu de Design (IED), painéis simultâneos divididos em três salas debateram a aplicação da cannabis em casos de câncer, autismo e doenças endócrino-metabólicas. Também abordou questões jurídicas, a cobertura do tema na imprensa, o cultivo e a pesquisa.

Entre os palestrantes desta edição estarão a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, o ambientalista Ailton Krenak e o jornalista Pedro Bial, além de médicos, farmacêuticos, biólogos, sociólogos, advogados e historiadores, que tratarão da pauta de forma interdisciplinar. Confira a programação completa.

Com informações da Fiocruz