“Legaliza! Legaliza! Legaliza!”. Cerca de 100 mil pessoas ocuparam a Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, no último sábado para gritar pela legalização da maconha, pelo fim da Guerra às Drogas e para lembrar àqueles que não estão presentes. Com o lema ‘Primavera Antifacista: Guerra é genocida, legalização é vida’, a Marcha da Maconha mostrou, mais uma vez, que a população está cansada do proibicionismo e de seus efeitos.
“A Marcha da Maconha, ela primeiro colocou o debate da maconha no Brasil. Antes da Marcha da Maconha você não podia falar a palavra maconha no Brasil. A Marcha conquistou no STF o que? Nenhuma autoridade no Brasil pode interpretar que qualquer participante da Marcha da Maconha está praticando crime de apologia”, explica o advogado André Barros.
“O papel da Marcha é trazer as pessoas para a rua. O movimento social é uma forma de a gente ser visto por outras pessoas que não ativistas e cobrar pelos nossos direitos de uma forma justa e trazer informações para as pessoas sobre o que é uma legalização e possíveis formas de legalizar”, conta a consultora canábica e membro da organização da Marcha, Ana Cláudia Lino da Silva.
De fato, as pessoas ocuparam as ruas. Pouco antes das 14h do sábado, o vão livre do MASP, tradicional ponto de saída da Marcha, começou a ser tomado pelas mais diversas pessoas e pelos baseados também. Inúmeras rodas já indicavam que o dia seria de muita fumaça e reivindicação. De tempos em tempos alguém puxava um coro de ‘Legaliza!’.
Sem a presença da polícia, o clima era tranquilo – e foi tranquilo até o final da Marcha, na Praça da República – e de liberdade.
“Além de tudo, é um bagulho para a gente ser livre, se sentir livre. A importância está aí, e tem a questão da saúde também. Não é só fumar e achar a brisa da hora, tem todo um negócio por trás”, exalta o separador de bebidas Leonardo.
De fato, estava explícito no rosto das pessoas a felicidade em estar fazendo parte do movimento. Todos orgulhosos com algum adereço que remetesse à maconha. Mas, não foi um dia apenas para fumar maconha.
“A Marcha da Maconha, além de um dia para a gente celebrar a cultura canábica, um dia que a gente pode vir aqui ocupar a Avenida Paulista, falar sobre maconha, fumar maconha, fazer este ato de desobediência civil. É um dia para a gente lembrar desta guerra, de tudo que envolve, de todos que não estão aqui, é um dia de luta, de celebração. Tudo junto, misturado. É um dia da gente fumar maconha e contar para a polícia que maconha é uma delícia, sim. Mas, também, é um dia da gente reivindicar e representar as pessoas que já morreram ou que estão encarceradas por esta guerra burra”, explica a influenciadora Natália Noffke, a Nahbrisa.
“A Marcha é um movimento, um ato, de levar informações, de provar os benefícios da planta, da nossa luta, das pessoas menos favorecidas, que a gente vê que há muita desigualdade”, complementa o pesquisador Rafael Gallo.
O ato também contou com a ala medicinal. Cidinha Carvalho, fundadora e presidente da Associação Cultive, mãe da Clárian, uma criança portadora da síndrome de Dravet e que faz uso medicinal da cannabis, marchou ao lado de outras mães pedindo o ‘direito de viver’.
“A marcha tem uma importância muito grande pra mim, foi o primeiro lugar que acolheu a mim e meu marido em 2014 onde eu estava buscando uma forma de eu buscar o acesso ao óleo para minha filha. A marcha me acolheu de forma impressionante, foi ali que eu pude dar o meu grito de socorro. E foi onde eu pude entender que, na verdade, a marcha é uma luta pela vida em todos os sentidos”, destacou.
“A Marcha da Maconha é um movimento de expressão, de conscientização e amadurecimento do que acontece na sociedade”, complementou Angela Boin, cultivadora e diretora da associação Mãesconhas do Brasil.
E, às 16h20, com todos devidamente preparados, a Marcha começou. Uma fumaça tomou conta da Paulista e as milhares de pessoas começaram o trajeto rumo à Praça da República, no centro de São Paulo. No caminho, gritos pela legalização, contra o presidente Jair Bolsonaro, contra à Guerra às Drogas e, também, muita animação.
Andar pela Marcha parecia um campeonato de baseados. Dos menores aos maiores, todos estavam felizes em exibir o seu. Andar pela Marcha, também, possibilitou ver que lá estavam todes. Sem dúvida, é o ato mais plural ligado à cannabis.
“É a primeira marcha que eu estou participando. Mas, eu acredito que a importância é unir todos os grupos que são marginalizados em razão desta temática hoje. Aqui é o momento de todo mundo se reunir e mostrar que o poder é do povo, olha quanta gente está aqui. Se vier polícia para todo mundo, somos nós que os carregamos. Então, eu acho que a importância da Marcha é que, apesar de quase 100 anos de proibição, de propaganda negativa, ela não morreu. Ela tá aqui. E, se a gente não lutar pelo nosso direito, com certeza de cima não vai vir”, ressalta a advogada criminalista e especialista em segurança pública Litza Aoni Caetano.
Segundo a organização, cerca de 100 mil pessoas estiveram presentes na Marcha. Antes do início, ao menos 6 quarteirões da avenida Paulista estavam completamente ocupados. Ainda, por volta das 18h, a Marcha parou em frente ao Cemitério da Consolação e fez um minuto de silêncio em memória dos mortos da Guerra às Drogas e da pandemia de Covid-19.
Por volta das 19h, o grupo chegou à Praça da República, o destino final. E lá, o sorriso no rosto estava estampado no rosto de todes. Sim, ainda há muita luta pela frente. Mas, sim, reunir cerca de 100 mil pessoas para marchar legalização da maconha é um feito enorme e só demonstra o poder que a população pode ter ao se unir.