Por Hernán Panessi
“O circo nunca fica ruim”, diz Fede Budasoff, responsável da Lion Rolling Circus, uma marca dedicada a itens de marketing para fumantes.
Quando menino, Fede tinha um queda muito forte pelo circo. E todo domingo ele ia com seu avô. Vestiam-se, arrumavam-se, ansiavam por isso: era o seu evento especial. Hoje, à sua maneira, essa memória está impressa em sua marca. E fez crescer, ampliando um universo referencial, dando uma nova forma ao imaginário.
Reza a lenda que, depois de um mochilão pela Europa, Ásia e África, Fede voltou ao país com a ideia de vender papel para fazer cigarros, sedas. “Na Holanda eu usava sedas king size que nem existiam aqui.”
Era o ano de 1993 e, trabalhando como cadete, ele se animou e mandou fax para todos. Ele não esperava nada, mas alguém do outro lado do planeta se interessou por sua proposta. Eles responderam a ele da Rizla, uma das empresas líderes do setor. Assim, ele vendeu seu baixo e, junto com um amigo, queimaram algumas economias e começaram a levar sedas para a Argentina.
“Eu saía para vender com a moto. As velhas achavam que estava vendendo drogas”, lembra.
Os anos maravilhosos
Mais tarde, em 1998, após uma viagem aos Estados Unidos, trouxe consigo uma linha de papéis incríveis, com sabores, fios, inovação. “Uma coisa levou a outra e eu estava me formando como empresário.”
Anos de remo vieram, de continuar indo com sua pequena moto daqui para lá. Ele começou a incorporar pessoas para fazer seu projeto crescer.
“Inconscientemente, percebi que estava sempre fazendo cultura da cannabis. Não queria competir com as marcas que estavam aqui, queria que as pessoas fumassem melhor”.
Com a mudança do paradigma de consumo, seu público passou a refinar o paladar e a aderir a esse aprimoramento conceitual. Assim, Fede, que começou na Fumanchú e logo criou a Lion, sabia que, com esforço e ideias, poderia se tornar um dos líderes do setor.
Mas não foi rápido, longe de ser fácil.
Toda vez que chovia, parava
“As duas primeiras fabricações foram feitas sem cola. Era impossível para mim virar o jogo”, diz.
Até que em 2006, por uma pirueta do destino, o primeiro lote oficial da Lion Paper acabou nas mãos de um canadense. Aquele canadense levou o carregamento para Nova York e, ali, exatamente ali, em qualquer loja, uma das maiores autoridades da OCB vê os papéis e diz que não, não pode ser, que a Lion Paper os estava copiando.
Livremente inspirado pelo famoso OCB negro, fez com que Fede passe por um julgamento internacional.
Após a mediação, a OCB propôs baixar o nível do conflito se, em troca, Fede destruísse todo o produto que já fabricava. A história diz que ele não o destruiu e que todo aquele carregamento foi parar na Amazônia brasileira, mas isso, agora, não importa tanto.
O que importa é que, para crescer, o projeto teve que ter uma reviravolta. “Vamos construir algo diferente!”, pensou Fede. Foi então que, junto com seu amigo Martín Donato, que na época tinha uma banca de jornal e estava começando no mundo da publicidade, eles levaram tudo um pouco mais longe.
Foi aí que o Lion Rolling Circus nasceu oficialmente: mantendo o original “Lion” e acrescentando “Rolling” para os Stones e “Circus” para sua devoção histórica ao circo.
“Vamos mudar tudo”, disse.
Em 2008, registrou a marca e firmou laços com uma fábrica na República Dominicana de onde comprou os papéis soltos. Na garagem de sua casa, Fede montou os pacotes. Um por um. Um por um. Um por um.
“Algo impossível de se pensar agora”, ele conta.
A vida é um circo
Para 2010, a Lion Rolling Circus acrescentou ao seu imaginário uma série de personagens que fariam parte do staff visual permanente da marca: alguns freaks, personagens circenses que transformaram uma marca de artigos para fumadores num íman com carga máxima. “Há um movimento de negócios que, sem ser marketing, deu certo para mim.”
Hoje, o universo Lion Rolling Circus tem fãs em todo o mundo.
Tudo começou com o desenho dos personagens e, com o tempo, esses “fenômenos” foram ganhando entidade, complexidade e história. Sem saber, como aconteceu com a Marvel ou a DC Comics, Fede montou o lionrollingcircusverse.
Imediatamente chegaram bonecos bobble head (se você os vê, você os quer), merchandising, roupas, toalhas … tudo baseado nos personagens. “Eles se tornaram uma equipe, uma espécie de banda de rock.”
Assim, em 2013, o dono da Blunt Wrap veio ao país em seu avião particular para se encontrar com Fede e, a partir daí, construir um relacionamento baseado na República Dominicana. “Lá nosso produto começou a ser industrializado, porque ele veio com a ideia de montar uma fábrica de papel lá.”
Com o crescimento do volume, a marca precisou se firmar ainda mais no mercado. Para isso, Fede alertou que a melhor maneira de fazer isso seria visitando feiras de cannabis aqui, ali e em todos os lugares.
Independente e global
Em 2015, ela viajou para Denver, nos Estados Unidos, junto com sua prima (não, Fede não sabia uma única palavra de inglês e foi ela que atuou como tradutora) e, embora tenha perdido dinheiro, sabia que estava encontrando seu jeito: relacionamento, perfil internacional, público-alvo.
“Vendi minha casa para pagar todas essas coisas”, garante ele sem corar.
Houve um risco, sim, mas a jogada foi perfeita.
Passou pela Expo Weed no Chile, Espannabis em Barcelona e muitas, muitas outras feiras. “Percebi que o produto gerava muito fanatismo. Na verdade, são mais de 100 pessoas que têm tatuagens dos personagens. Tudo o que a marca gerou é incrível”, surpreende.
—Com quase 25 anos de trabalho, como continua essa aventura?
—Estamos em 35 países do mundo. Eu pensava isso antes de nos expulsarem dos quiosques e hoje estou prestes a receber meu cartão de produtor. Tudo mudou muito. Estamos entrando nos Estados Unidos e a marca está curtindo bastante. Tudo o que acontece lá repercute em muitos lugares. E então é feito como um efeito de contágio.
– E qual é o seu objetivo final com Lion Rolling Circus?
—Quero torná-la a sexta marca mundial atrás de OCB, Smoking, Rizla, Gizeh e Raw. Estou lutando por esse objetivo. Quero que minha marca, que é criada por um time argentino, entre nessa liga. Sendo uma marca independente, sem investidores ou parceiros, entramos no mundo da cannabis no exterior. E a marca veio daqui, chabón. Eu não sei onde isso vai dar porque tudo é ridículo. Somos os primeiros a colocar arte em uma marca de papel. Tornei-me fã do que faço. Não vamos atrás do dinheiro, vamos atrás da ideia. E a ideia traz o dinheiro.
Fotos cortesia de Fede Budasoff
Matéria originalmente publicada no site El Planteo e adaptada ao Weederia com autorização