Terminou na última sexta-feira a primeira edição da Medical Cannabis Fair Brasil. A feira aconteceu em São Paulo, entre os dias 3 e 6 de maio, e foi realizada dentro da Medical Fair Brasil, a edição brasileira da MEDICA, feira alemã organizada pelo Grupo Messe Düsseldorf, considerada o maior evento da indústria médico-hospitalar mundial. E, quem frequentou o Expo Center Norte pode notar que a cannabis foi o grande destaque do evento.
De um lado estavam as empresas ‘tradicionais’, com seus estandes montados sobre um tapete vermelho. No canto esquerdo, com seus estandes montados sobre um tapete verde, as empresas ligadas à cannabis. Mas, não precisava do tapete para saber onde estava rolando a área de cannabis. Bastava seguir o fluxo. E que fluxo.
“As expectativas foram superadas, eu tenho passado em todos os estandes e o feedback que eu tenho recebido é muito bom, tanto das palestras no congresso quanto no estande. A coisa boa que eu tenho para falar é o seguinte: a Medical Fair já falou que no ano que vem é, no mínimo, o dobro”, contou o médico Pedro Pierro, um dos grandes responsáveis pela execução da feira.
Mais de 11 mil pessoas visitaram a Medical Fair Brasil e puderem conhecer bastante sobre a utilização terapêutica da cannabis. Mas, a Medical Cannabis Fair Brasil não se limitou apenas às empresas que produzem medicamentos à base de maconha. Sim, se o visitante estava interessado em conhecer os produtos, as principais empresas do mercado brasileiro estavam lá: como a USA Hemp, a Pangaia e a Nunature – segunda empresa a conseguir autorização da Anvisa para comercializar seu produto nas farmácias.
Agora, lá também estava a Gravital, por exemplo, uma clínica focada em cannabis e presente em diversos estados brasileiros, a Kaya Mind, uma consultoria especializada em dados, um banco digital que pretende facilitar a vida das empresas que trabalham no mercado cannábico, o Reaja, uma empresa que vende testes para você descobrir se o seu produto contém, realmente, os canabinoides indicados.
“Por mais que a indústria pareça mais presente, porque em número de estandes você vê mais produtor ou revendedor, até me surpreendeu o número de outros negócios que estão aqui dentro. Tem uma faculdade, uma casa de câmbio, bancos, clínicas e importadoras, que são as intermediárias de tudo isso e que, na verdade, são de grande interesse para a área médica e da saúde”, enfatizou Maria Eugenia Riscala, cofundadora e CEO da Kaya Mind
Medical Cannabis Fair: Saldo positivo
No final da tarde de sexta-feira, último dia do evento, o sentimento entre todos os presentes era um só: satisfação. De fato, a feira foi um sucesso, não somente para as empresas presentes, mas também para o público que a visitou.
“Tenho visto muita curiosidade, a gente está posicionado de uma forma diferente da maioria. Muita gente está impressionada com as possibilidades, não só temos o banco na feira, mas temos soluções de acessos aos medicamentos, diferentes apresentações de produtos, com diferentes concentrações e canabinoides”, destacou Camila Teixeira, CEO da Cannabanx, empresa que estava fazendo o seu lançamento na Medical Cannabis Fair.
Um estudante entrevistado pelo Weederia disse que tudo o que ele viu no evento, ‘colapsou a mente’ dele. Consumidor de cannabis, ele estava lá para entender mais sobre as funções terapêuticas da maconha. Os médicos, público alvo da Medical Fair, também saíram entusiasmados.
Muitos já são prescritores de cannabis, outros estavam começando o seu relacionamento com ela, em busca de informações sobre os produtos, meios de compra e, até mesmo, formação. O médico Pedro Melo, da clínica CBDoctors, lançou o seu novo projeto: o CBDoctor Infinity, o primeiro e único curso e monitoria de saúde integrativa para médicos e prescritores.
“O saldo é positivo. Nós estamos crescendo, estamos mostrando seriedade, estamos mostrando que as empresas que estão inseridas são sérias, são médicos sérios, formados, que tem ciência envolvida, com estudos médicos sendo desenvolvidos. E é isso que nós queremos. Mostrar para quem não nos conhece, quem nós somos”, enfatizou o médico Pedro Piero.
Medical Cannabis Fair: Perfil dos visitantes
A Kaya Mind, uma empresa de inteligência de mercado e dados genuinamente brasileira para o setor da cannabis, aproveitou o movimento do evento e realizou uma pesquisa de mercado com mais de 1000 pessoas que passaram pela feira.
O objetivo da empresa é fazer um estudo para entender como atores do mercado da saúde enxergam a participação do setor na indústria de cannabis medicinal.
“A gente vai fazer uma divulgação destes resultados. Nossa ideia é fazer barulho, é levar para a organização de outros eventos como este que vale a pena trazer o tema da cannabis para dentro. A gente tem recebido muita gente como terapeutas, psicólogos, outras profissões da área da saúde, que não prescrevem, mas veem na cannabis um pilar de apoio para suas terapias”, ressaltou Thiago Dessena Cardoso, cofundador e CIO da Kaya Mind.
De fato, um dos grandes feitos destacados pelos presentes foi a possibilidade de conversar com ‘não-convertidos’, visitantes que não são do universo da cannabis, mas que aproveitaram a feira para conhecer um pouco mais sobre o assunto, e com outras áreas interligadas à médica.
“Não achei que iria trazer tanta gente como trouxe. Eu acredito que é uma ponta no iceberg. Vai crescer muito mais”, destacou José Almeida, CEO da Nunature Labs Brasil.
No entanto, apesar do grande destaque para os agentes da cannabis para fins medicinais no Brasil, a ausência das associações de pacientes foi sentida. Muitos presentes perguntaram sobre elas. No entanto, o presidente da Santa Cannabis, Pedro Sabaciauskis, acredita que nas próximas edições as associações devem estar presentes.
“Eventos como este provam que não dá mais para segurar, é uma realidade, e que independente do mercado que for, seja ele de associação, seja ele de empresa, está acontecendo. Todas as frentes estão crescendo. Isso prova que precisamos de uma regulação que atenda este crescimento, que faça com que ele seja ordenada”, ressaltou Pedro Sabaciauskis.
Além dos estandes das empresas participantes, o evento também abrigou o Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal. Nos dois primeiros dias, o tema foi saúde, nos dois últimos, negócios e mercado. Foram quatro tardes de muito debate e informação com os principais médicos e agentes da cannabis no Brasil.
O Congresso também foi palco do anúncio da fusão entre a Dr. Cannabis e a Cannect. As empresas anunciaram que estão em processo de combinação de negócios. Na transação firmada, a Dr. Cannabis, plataforma que dá acesso à cannabis medicinal no Brasil desde 2018, passa a integrar o ecossistema de healthtech da Cannect como sua vertical de educação.
“A cannabis sai fortalecida. Por que é cannabis para uso medicinal. A planta é a mesma que faz remédio, tecido, plástico, concreto. É o uso medicinal da cannabis. A cannabis e todos que estão em volta, esta planta une, pelo menos o meu desejo é que saiam daqui fortalecidos”, concluiu o médico Pedro Pierro.
Confira as entrevistas que fizemos no evento