Por Hernán Panessi
Uma chuva fininha, mas incômoda, não impede um grupo de jovens de sustentar sua cansativa marcha para entrar no Centro de Eventos LATU, em Carrasco, no Uruguai. Alguns jornalistas mostram o crachá e, agora, ninguém pede identificação deles. É o terceiro dia da ExpoCannabis Montevidéu e esta enorme plataforma de informação sobre cannabis está chegando ao fim.
Caveiras, mãos, facas, baseadinhos, filtros. No estande da Papelito, marca brasileira de sedas e filtros, um magricela estica a mão com a palma para cima, esperando os furos, a tinta e sua anedota gravada na pele. Lá, o tatuador Kabe abaixa a agulha e diz: “Essa é a minha tatuagem número 49 da Expo.”
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Eles fizeram as flash tatuagens e todos foram premiados por sorteio. “Você pode me fazer um?”, Javier Hasse, CEO do El Planteo, lança para o tatuador, um pouco na hora, animado com o clima. “Não tenho mais suprimentos”, responde o artista. E não, não havia mais nada: Hasse vai voltar para casa com a pele nas mesmas condições de antes.
Além disso, a equipe do Ojitos Rojos prepara sua tarefa cheia de alegria. Novos presentes estão chegando, o assédio da multidão enfurecida, algumas danças desconcertantes e ótimas e um dos gestos de marketing mais interessantes da Expo: uma mascote que faz o esqueleto se mexer, chama a atenção e recompensa com alguns brindes.
ExpoCannabis: Rave canábica e rioplatense
Campo aberto, grama molhada, tênis de futebol: alguns jovens desafiam algumas garotas que parecem estar dançando. Profecia autorrealizável: sim, elas dançam também. Os garotos respondem com outra danças, mas as meninas quebram. O show é bom de assistir e vários transeuntes diminuem a velocidade para sussurrar sobre ele.
No palco, o show F5 convida ao movimento. E, quase como num feitiço, graças ao seu candombe eletrônico, o público muda de pele, transformando o espaço em uma espécie de rave de cannabis e Rio da Prata. “Segure o candombe”, diz um dos músicos enquanto uma fita com a legenda “Barrio Sur”, berço de uma das principais manifestações culturais da cidade, atravessa seu torso.
Siga a chuva, continue a agitar. Um drone voa sobre o ambiente e os presentes permanecem em transe ao som de tambores.
No setor medicinal, um estande do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pescas situa-se entre brochuras e informações sobre licenças para operar com cannabis não psicoativa. “Este ano está bom, cresceu muito. Foram concedidas 147 novas licenças”, descreve José Luis Vivanco, assessor técnico do Ministério.
ExpoCannabis: A última curva
“Lá vamos nós, quietos, esperando o show”, disse Peke 77 no prelúdio de sua apresentação. É a primeira vez que o trapper passa pela Expo e sua presença termina a 8. edição.
“Parece-me que as pessoas vão gostar do programa. Agora estou implementando um novo estilo, para mudar um pouco. Eu lancei duas músicas nesse estilo e há muitas mais por vir. Ele está pintando um pouco mais sério e realista”, continua.
Mas primeiro é a vez dos prêmios e há prêmios para Papelito, H2H Hidroponia, BSF Seeds, entre outros.
“Eles nos deram a distinção como um dos melhores estandes. Não ganhamos o primeiro prêmio, mas não importa. O importante aqui é estar na Expo. Venha e seja. Quanto mais estivermos, melhor. Todo o evento foi incrível e esta é a minha casa”, explica Rolo, representante da BSF Seeds Uruguai.
“Pistol II”, “Tamo Lindo” e “Otra vez” do Peke 77 tocam e, de repente, algumas bolas de praia gigantescas tomam o centro do palco. O público acende e um representante da Cripi Grow começa a rolar algumas sementes de OG-Kush, entre outros detalhes, da plataforma.
Do jeito que está, um rastro rosa cruza o céu, o show do jovem trapper termina e o público aos poucos começa a se retirar. Tem alguns “até ano que vem”, tem uma banda “I’m crazy”.
De repente, como um redemoinho, o enérgico Meche Ponce de León, organizadora da Expo, convida os poucos sobreviventes a aderir ao espaço VIP, oferece doses de Gin Libertad com terpenos de cannabis e, entre abraços e despedidas, propõe um brinde íntimo, comemorativo, conclusivo, final: “Pela abundância da planta, saúde.”
Matéria originalmente publicada no site El Planteo e adaptada ao Weederia com autorização