No dia 8 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher, um data, especialmente para nós, mulheres, que nos faz lembrar de tantas lutas que tivemos para chegar até aqui e de tantas outras que ainda temos pela frente em busca de um mundo mais igual.

De acordo com o relatório de 2022, “Diversidade, Equidade e Inclusão na Indústria da Cannabis”, as mulheres que ocupam cargos executivos na indústria da cannabis são apenas 23,1%. Ou seja, ainda há muito pela frente. 

Mas, eu queria aproveitar este espaço para reforçar os benefícios terapêuticos que a cannabis pode proporcionar na vida das mulheres. Com todas as barreiras sociais impostas, ainda é menor o número de mulheres que fazem uso da terapia canabinoide quando comparamos com os homens. 

De acordo com o Instituto Cactus, uma em cada cinco mulheres brasileiras apresenta Transtornos Mentais Comuns (TMC), e a taxa de depressão é, em média, mais do que o dobro da verificada entre homens. 

Alguns estudos conectaram esses distúrbios ao sistema endocanabinoide (SEC). Ele é integrado ao nosso sistema nervoso central e se caracteriza pelo conjunto de receptores e enzimas que trabalham como sinalizadores entre as células e os processos do corpo humano. Sua principal função é ajudar a manter a homeostase, ou seja, manter o corpo em equilíbrio.

Um estudo realizado em animais, identificou que aqueles com depressão demonstraram que o Sistema Endocanabinoide não estava funcionando corretamente. 

O grande auxílio da cannabis no tratamento da depressão também pode ser encontrado na condição dos medicamentos. No país do Rivotril, o uso de antidepressivos tem crescido constantemente. Um estudo mostrou que o número de brasileiros que fazem uso de antidepressivos cresceu 23% em 4 anos, de 2014 a 2018. Os efeitos colaterais dos antidepressivos podem acabar trazendo problemas secundários para o paciente: como sono, peso, alteração de humor.

Um estudo publicado em 2018 analisou os efeitos do CBD no combate à depressão em roedores e descobriu que uma única dose pode induzir efeitos semelhantes a antidepressivos rápidos e sustentados.

De muitas maneiras, as flutuações hormonais experimentadas ao longo da vida de uma mulher são naturais e saudáveis. No entanto, as alterações hormonais também podem ser desconfortáveis e até insuportáveis em alguns casos. 

A cada ano, mais de 2 milhões de mulheres atingem a menopausa, enquanto 27 milhões estão passando por ela. A menopausa, nome que se dá à última menstruação e acontece, geralmente, entre os 45 e 55 anos,  pode ser uma transição difícil para nós mulheres. Sua principal característica é a parada de menstruação. No entanto, outros sinais e sintomas como alteração do sono, do humor e ondas de calor podem surgir. 

O estrogênio, um hormônio que diminui com a menopausa, desempenha um papel no funcionamento do sistema endocanabinoide. Quando as mulheres entram na menopausa, elas param de produzir altos níveis de estrogênio e há uma redução na sinalização endocanabinoide. Por isso, cada vez mais eu vejo mulheres em busca de tratamentos com cannabis para acompanhar este período. 

A cannabis pode ser útil para controlar esses sintomas porque ajuda a estabilizar o humor e aliviar a dor. Pesquisas indicam que o THC pode diminuir a temperatura corporal, o que pode ajudar a mitigar as ondas de calor.

A dor é outro sintoma comum da menopausa que pode ser aliviado pela cannabis, uma vez que o sistema endocanabinoide é encarregado de regular a sensação de dor em todos os estágios do processamento da dor. Outro fator no qual ela pode ser útil, é nas mudanças emocionais durante a menopausa de outras maneiras. 

Como falamos, os níveis de estrogênio podem ter um grande impacto no emocional, e isso é modulado pelo sistema endocanabinoide. A perda de estrogênio pode causar ansiedade e depressão graves. Felizmente, a cannabis também é conhecida por sua capacidade de reduzir a ansiedade e a depressão e até deixar os pacientes com mais resiliência contra a ansiedade em situações estressantes.

A qualidade do sono também pode melhorar com a cannabis. A influência do sistema endocanabinoide no ritmo circadiano sugere uma relação lógica entre cannabis e sono. Um estudo descobriu que doses médias a altas de CBD melhoraram o sono dos pacientes.

Mulher, endometriose e a cannabis

A endometriose afeta cerca de 100 milhões de mulheres em todo o mundo e, no Brasil, mais de 6 milhões. É uma condição inflamatória crônica altamente desconfortável, dolorosa, difícil de tratar e diagnosticar. Nela, o endométrio – o tecido que reveste o interior do útero – sai do útero. Este tecido rebelde pode então crescer em órgãos como os ovários, trompas de falópio, colo do útero, apêndice, útero e bexiga, bem como algumas outras áreas abdominais.

A endometriose caracteriza-se pelo crescimento anormal do tecido do endométrio, onde fibras nervosas sensoriais e simpáticas surgem nas ramificações desses crescimentos anormais. Essas fibras são ricas em receptores CB1 e, portanto, podem ser moduladas com endocanabinoides ou com os canabinoides da cannabis (que podem ativar o CB1), como o CBD e o THC. Vale destacar que o trato reprodutivo feminino tem o segundo maior número de receptores de canabinoides do corpo humano.

O CBD é antagonista dos receptores CB1 e agonista inverso dos receptores CB2. Atua aumentando os níveis de anandamida no nosso corpo (a molécula da felicidade) e os níveis de serotonina (causando uma redução de ansiedade). Além de gerar a redução da dor. 

A cannabis pode tratar a endometriose nos seguintes aspectos:

  • Parar a proliferação da dor
  • Impedir a migração de células
  • Inibir a vascularização da lesão
  • Inibir a inervação da lesão
  • Modular a resposta imune
  • Síntese de bloqueio de prostaglandinas inflamatórias
  • Nervos dessensibilizadores que transmitem dor

Em 2010, por exemplo, um estudo descobriu que o sistema endocanabinoide pode estar envolvido na endometriose e seus sintomas. Pesquisadores também já identificaram em ratos que o sistema endocanabinoide pode interferir tanto na condição quanto na dor que a acompanha. 

Ou seja, a cannabis pode ser uma aliada da saúde da mulher em diversos aspectos, trazendo uma melhor qualidade de vida e combatendo algumas dores que tanto nos afetam. Por isso, converse sempre com o seu médico sobre a condição e como a terapia canabinoide pode ser útil pra você. E, seguimos na luta por um mundo mais igual.