Neste domingo é comemorado o Dia das Mães no Brasil, um dia muito especial para todas as famílias e, muito mais, para a comunidade canábica brasileira. Pois, graças, também, ao trabalho das mães, o acesso ao tratamento com cannabis está cada vez mais acessível. Mas, se ser mãe já não é uma tarefa fácil, ser uma mãe atípica e ativista é um desafio ainda maior. 

“Ser uma mãe atípica, ainda mais em um território de favela, é ser uma mãe que não desiste nunca, sempre correndo na frente de melhorias para os seus filhos”, conta Rafaela França, mãe da Maria e criadora do Núcleo de Estimulação Estrela de Maria, no Complexo do Alemão.

Rafaela tem 40 anos e no auge da pandemia de Covid 19 descobriu algo fora da normalidade estava acontecendo com sua filha Maria. Por conta do autismo, Maria teve uma regressão e, então, decidiu pedir ajuda para o tratamento da ‘estrelinha’, como Maria também é conhecida.

A solidariedade dos moradores do Complexo fez com que Rafaela conseguisse dinheiro para o da Maria e, também, despertou um desejo no coração de Rafa: nenhuma criança da favela iria ficar sem o óleo de cannabis.

“A cannabis entra na minha vida na contramão de todos os tratamentos tradicionais e ela vem, não só em uma libertação, do tudo o que é o tradicional, também para outras crianças que a gente também faz um trabalho”, conta Rafaela.

Foi então que ela resolveu criar o NEEM – Núcleo de Estimulação Estrela de Maria, que trabalha com promoção de saúde, acesso a direitos, acompanhamento escolar e todo o suporte para famílias de crianças atípicas da favela. 

Em parceria com o Neem, que faz o acolhimento, cadastro e triagem das famílias, a Fundação Redwood e a USA Hemp Brasil oferecem os medicamentos prescritos pelos médicos parceiros do projeto.

Com o Neem e Rafa, o óleo de cannabis chegou até a vida da assistente social Dárley, também moradora do Complexo do Alemão. Dárley é mãe de Samuel, de 12 anos, e Isabela, 7.

Isabela foi diagnosticada com Transtorno do Espectro do Autismo e TOD, uma condição que afeta o comportamento da criança ou do adolescente com autismo, podendo comprometer o seu desenvolvimento. 

“A Bela foi diagnosticada, no ano passado, com Transtorno do Espectro do Autismo  e com TOD também. As crises da Isabela eram crises muito fortes, onde a maioria dos médicos só passava alopático para ela. Ela não conseguia salivar, deixava ela molinha, apática. Eu vi minha filha vomitando 3 dias seguidos sem brincar, eu vi minha filha tentando se jogar da janela por uma crise de TOD, e a cannabis vem nesse intuito para mim mudar a minha história”, conta Dárley.

Após iniciar o tratamento com cannabis, Dárley conta que a vida de Isabela foi transformada. 

“Hoje eu posso estar aqui em São Paulo trabalhando e a minha filha falou minha pra mim, ‘mãe, vai lá, boa viagem’. Isso transforma a minha vida, pois são possibilidades que não existiam antes. Ser mãe é exatamente isso, a gente quer o melhor para os nossos filhos e conseguir dar este acesso para ela através da cannabis”, complementa Darley.

Hoje o NEEM atende mais de 300 famílias em situação de vulnerabilidade em mais de 70 comunidades do Rio de Janeiro, levando qualidade de vida a centenas de crianças e, através da popularização do tratamento com cannabis, proporciona uma esperança de futuro melhor para as mães e seus filhos.


“É um sonho. Eu não sei explicar, mas acho que um sonho a gente não explica. São sonhos que se tornaram reais, então, eu estou vivendo cada momento, cada pedacinho, cada evolução dela, cada vez que eu consigo ver ela brincando. E é gostoso, porque ela sabe o medicamento que ela usa. Ela conta para as amigas da escola que toma CBD. Eu estou vendo minha filha de 7 anos virar uma ativista. E poder falar para as pessoas, olha se eu estou falando, se eu consigo interagir hoje com você, é porque, não só a terapia, mas a terapia medicamentosa, ela vem ajudando a Isabela. A Isabela falar, a Isabela brincar, a Isabela correr, a Isabela ter paciência. E a Isabela poder sonhar e falar: mãe eu vou crescer, eu vou ser médica e eu vou ajudar outras crianças como eu”, destaca, emocionada, Dárley. 

“A mensagem que eu passo para outras mães é que não desistam dos seus filhos, principalmente para a promoção de saúde, acesso a direitos e muito amor, paciência, e ao básico, bem-estar desta criança, é o máximo que a gente, como mãe, consegue dar a tudo o que nossos filhos nos transmitem”, complementa Rafa.