Neste dia 6 de fevereiro, Bob Marley completaria 78 anos. Expoente do reggae mundial e geralmente relacionado à maconha, é interessante ver o que acontece com o uso espiritual da planta. É claro que a cannabis é muito mais do que uma planta com inúmeras virtudes terapêuticas e produtivas. A cannabis passa pela formação de diversas culturas e costumes que foram construídos em torno de seu uso. A cannabis é uma planta sagrada. Assim é concebida por quem a incorpora nos ritos religiosos e experimenta uma ligação mística com ela.
Na Jamaica, o rastafarianismo usa a cannabis como forma de limpar o corpo, a mente e a alma; por sua vez, para destacar a consciência crítica do mundo através da meditação. Mas também representa a conexão com Jah (Deus). Esse movimento incorpora vários aspectos que o tornam único: partes da cultura judaico-cristã são elementos que se amalgamam com a consciência da história negra.
Os Rastas também chamam a maconha de “the healing of the nation”, a cura da Nação; ou “wisdom weed”, a erva da sabedoria, pois quem a consome e medita encontra verdades ocultas que se revelam e um caminho para a sabedoria. Eles a concebem como uma criação de Deus e até sustentam que em trechos do Gênesis ou dos Salmos bíblicos há referências à erva sagrada.
O surgimento do reggae, entre os anos 60 e 70, está em um contexto de forte repressão aos rastafaris pelo governo jamaicano. Lá, a planta estava proibida desde 1913, pela elite branca e evangelistas. Em 1963, a repressão contra os rastafaris teve um capítulo de extrema criminalização e violência, no que foi chamado de Massacre dos Jardins de Coral. Naquela época, eles impuseram penas de prisão a mais de 400 pessoas que tinham pequenas quantidades de cannabis para uso pessoal.
O reggae foi uma ótima maneira que os rastafaris encontraram para canalizar suas demandas pela legalização da cannabis em seus diferentes usos, para denunciar a repressão policial aos consumidores e ao tráfico ilegal. Bob Marley foi a face mais visível de um movimento cultural e religioso que, a partir da subalternidade, começou a se erguer para desestigmatizar a planta da cannabis em tempos de proibição e reivindicar seu uso religioso. Em sua música “Kaya”, Marley usa o conceito de Irie, que encapsula a sensação de conexão espiritual e bem-estar encontrada ao fumar maconha.
Agora, o que está acontecendo com a situação da cannabis na Jamaica hoje? Somente em 2015, 102 anos após sua proibição, o governo jamaicano alterou a Lei de Substâncias Perigosas e autorizou o cultivo de até cinco plantas de cannabis para uso pessoal. No caso dos rastafaris, os maiores de idade podem solicitar uma licença de cultivo para fins religiosos. Por outro lado, em relação à regulamentação da indústria de cannabis e cânhamo medicinal, bem como à pesquisa científica, foi formada uma Autoridade de Licenças de Cannabis. No entanto, o cultivo em pequenas quantidades é permitido, mas não em grande escala.
Matéria originalmente publicada no site Industria Cannabis e adaptada ao Weederia com autorização