‘Antiproibicionistas por uma questão de classe. Reparação por necessidade’, foi com este eixo que milhares de pessoas marcharam pela Avenida Paulista no último sábado, 17. A Marcha da Maconha, pelo décimo quinto ano, ocupou as ruas de São Paulo e, mais uma vez, mostrou o poder da organização popular em busca da legalização da maconha.
‘É um ato lindo, no qual podemos andar e manifestar a nossa vontade e demonstrar que as políticas exercidas pelo governo, há anos, estão completamente erradas e devemos continuar lutando’, conta Leonardo, que esteve pela primeira vez na Marcha.
A concentração começou às 14h20 na frente do vão livre do MASP e, em pouco tempo, a rua já estava tomada. A fumaça também não demorou a ser um elemento presente, mesmo na presença de policiais que observavam de longe.
E, às 4h20, tradicional horário dos maconheiros, a Marcha começou a sua caminhada pedindo o fim da Guerra às Drogas, guerra esta que é motivada pelo racismo, corrupção e hipocrisia, como bem destaca, sempre, a organização, que é composta por diversos coletivos.
“Chega, já passou da hora desta guerra que é direcionada, basicamente, a um único grupo. Esta é a minha terceira vez aqui presente. Eu já tinha vindo antes da pandemia, vim em 2022 e este ano estou aqui novamente por esta luta que deveria ser de todos”, conta o administrador Daniel.
A manifestação contou com a distribuição de 50 mil sementes de maconha pelo Movimento Sem Sementes, reforçando a desobediência civil como uma das principais características do ato.
“A semente é o início de tudo! Ela pode ser a chave pra começarmos hoje a socialização e reparação histórica necessária que tanto queremos para corrigir as injustiças raciais e econômicas geradas pelo proibicionismo”, diz o manifesto lançado no sábado.
Nesta semana o julgamento do RE 635659 está na pauta do Supremo Tribunal Federal novamente. Os ministros devem julgar se o artigo 28 da Lei de Drogas é inconstitucional ou não e, como consequência, pode descriminalizar o uso e porte de maconha.
A expectativa dentre os presentes era mista. Alguns, muito esperançosos de que, enfim, o Supremo deve realizar algo que há muito tempo encontra-se engavetado. Já, outros, acreditam que, mais uma vez, os ministros irão se abster desta decisão que impactará a vida de milhões de brasileiros.
“Já era para ter sido julgado. Já passou da hora. Mas, não dá para esperar muita coisa e é por isso que estou aqui e muitos outros também estão. A Marcha é a nossa voz, é o nosso momento de gritar para o Brasil e para o mundo de que estamos cansados de toda esta guerra. Mas, está parado no Supremo e não vejo muita boa vontade dentre os ministros. Enquanto eles ficam se escondendo desta decisão, muitos estão morrendo e perdendo a sua vida. Chega”, pede a advogada Rosa.
De fato, o sentimento de Rosa espelha o sentimento de muitos. De fato, a Marcha da Maconha é a voz de muitos, mesmo daqueles que não podem comparecer no evento, seja ele em São Paulo ou em qualquer outra cidade do Brasil. Afinal, os efeitos criados pela Guerra às Drogas são enormes e ainda estão muito enraizados na cultura do brasileiro.
Mas, assim como os milhares que ocuparam as ruas de São Paulo pediram, está mais do que na hora de descriminalizar, trabalhar uma regulamentação e não esquecer da reparação histórica para que, assim, o Brasil possa, aos poucos, se tornar um país melhor para uma parte da população atingida fortemente pela Guerra causada pelo poder público. Que as vozes que foram entoadas na Avenida Paulista e em qualquer Marcha da Maconha do país, sejam ouvidas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal.