“As conferências foram de muito bom nível. Não entendo português, mas me esforcei para tentar entender. E a verdade é que muito bem, muito bem”, disse Valeria Salech, ativista argentina e presidente do Mamá Cultiva Argentina, sobre sua experiência no primeiro Congresso de Psicologia e Cannabis realizado na Universidade Federal de Minas Gerais, no Brasil.

Durante três dias intensos, de 26 a 28 de abril de 2023, a cidade de Belo Horizonte, no coração do Brasil, tornou-se o epicentro de um debate crucial e progressista. A Universidade Federal de Minas Gerais sediou o primeiro Congresso de Psicologia e Cannabis, um evento inédito que combinou programação robusta com diversas atividades.

Salech foi uma das palestrantes de destaque do evento, participando da conferência “As mulheres e a Cannabis na América” ao lado de Letícia Laranjeira, Luana Malheiro e Yael Steiner. Valéria foi uma das vozes internacionais presentes, representando a comunidade canábica argentina e dando seu testemunho sobre a situação em seu país.

Mas além de sua participação na conferência, Salech também refletiu sobre a importância deste evento e seu impacto. 

“Foi a primeira vez que aconteceu em ambiente acadêmico, um encontro sobre cannabis, psicologia e maconha, e teve muitos alunos de psicologia e pós-graduação”, disse, destacando a relevância de um diálogo acadêmico sobre o tema.

Um evento pioneiro

A iniciativa foi liderada pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) e pela PsicoCannabis, rede brasileira de Psicologia especializada no uso medicinal e terapêutico da Cannabis e seus derivados. O congresso também contou com o apoio da Universidade Federal de Minas Gerais, por meio de sua Pró-Reitoria de Extensão Universitária.

Anderson Matos, assessor e coordenador da Comissão de Orientação em Psicologia e Tratamento com Cannabis Terapêutica, explica que o Congresso foi resultado de um processo iniciado há cerca de três anos. 

“O tema chega ao Conselho a partir da constatação de uma demanda crescente de pacientes, familiares e cuidadores no uso da maconha de forma medicinal ou terapêutica”, afirmou em nota prévia ao evento.

Débora Elias, psicóloga e representante da Rede PsicoCannabis, destacou a diversidade de questões relacionadas ao uso da maconha que se refletiu na programação do Congresso. Entre eles, o racismo, a interseccionalidade entre gênero, raça e classe, o debate antiproibicionista, a redução de danos, o movimento antimanicomial, a crítica à medicalização da sociedade e ao sofrimento psíquico derivado da criminalização do uso, entre outros.

Apesar da barreira do idioma, Salech insistiu na necessidade de maior compartilhamento de informações e colaboração entre os países latino-americanos. “Temos que compartilhar todas essas informações que eles têm no Brasil e que temos na Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia…”, comenta.

Este primeiro Congresso de Psicologia e Cannabis representou um passo importante na luta pelo desmantelamento de preconceitos e tabus em torno do uso medicinal da cannabis. Segundo Matos, a psicologia, como ciência e profissão, deveria se posicionar para acolher essas demandas, produzindo orientação, acompanhamento e suporte adequado aos pacientes e à classe profissional como um todo.

“Nesse acompanhamento interdisciplinar, a psicologia tem um papel muito importante devido ao vínculo que o psicólogo e a psicóloga têm com o paciente. Além disso, muitas pessoas já chegam ao consultório usando e precisamos enfrentar o preconceito. É muito importante que os psicólogos não criem tabus”, argumentou Elias.

A participação de Salech no Congresso e seu apelo à colaboração entre os países da América Latina só reforçam a urgência e relevância do tema. Ao integrar diversas vozes e experiências, o Congresso demonstrou que o uso terapêutico da cannabis é um tema que transcende fronteiras e requer uma abordagem interdisciplinar e global. Com seu sucesso, o Congresso deixou uma marca indelével, marcando o início de um debate acadêmico e profissional que promete continuar nos próximos anos.

Assista a apresentação completa de Valeria Salech abaixo no YouTube.


Matéria originalmente publicada no El Planteo e adaptada ao Weederia com autorização