Conheça Dona Cleusa, a mãe do Samuel e de todos que lutam pela cannabis
Conheça Dona Cleusa, a mãe do Samuel e de todos que lutam pela cannabis

Dona Cleuza é mãe de 5 filhos. Mas, podemos dizer que ela é mãe de todos nós. Impossível se aproximar dela e não sentir o carinho e amor de mãe que ela passa a todos, sem exceção. Conversar com ela é receber uma grande lição de vida, de solidariedade, amor e doação ao próximo. 

E foi este amor de mãe que fez com que ela quebrasse seus preconceitos e encontrasse no óleo de cannabis a solução para o Samuel que, por conta de uma infestação da herpes no cérebro responsável por uma encefalite viral, chegou a ser desenganado pelos médicos após ficar 45 dias em coma e ter 80% do cérebro comprometido.

Mas, Dona Cleuza não perdeu sua esperança.

“Eu tenho um criança com histórico de 60 convulsões ao dia, que hoje não usa mais fralda, nem sonda e anda e nada e anda de bicicleta e anda de cavalos, com 80% do cérebro comprometido e lesionado, esta planta é um milagre”, conta Dona Cleuza ao Weederia.

Samuel, na verdade, não é filho biológico de Dona Cleuza. Ela é tia-avó. Biologicamente ela tem 4 filhos, mas adotou o Samuel após ele ser abandonado pela mãe. E este abandono foi o responsável por desencadear uma série de problemas na vida do pequeno Samuca, que até então era uma criança ativa.

“Ele entrou em coma e acordou surdo, mudo, tetraplégico, utilizando sonda para se alimentar, convulsionando até 60 vezes, com autismo severo. Eu levei pra casa um vegetal, e aí eu comecei a cuidar desta criança. Só que meu filho não melhorava e, a cada volta no neurologista, ele aumentava o remédio.”

Por conta das convulsões, Samuel quebrou todos os dentes de leite em uma queda. Os medicamentos alopáticos faziam com que ele sobrevivesse, mas sem qualidade de vida. E isso fez com que Dona Cleuza buscasse tratamentos alternativos.

“Coloquei um alarme em meu e-mail em busca de tratamento alternativo para autismo severo, paralisia cerebral, encefalite viral por herpes. Todos os tratamentos que ele me mandava eram com cannabis. E aí eu fui descobrir o que era a cannabis, fiz curso com o professor Carlini e aprendi, cientificamente, o que é a maconha”.

Mas, a maconha já havia entrado na vida de Dona Cleuza há um bom tempo. Seu filho Laerte começou a fazer uso quando tinha 12 anos, para desespero dela. Evangélica, foi criada com a velha máxima: fuja da maconha e dos maconheiros. 

Laerte teve caxumba quando criança e ela acabou virando uma meningite, que acabou gerando algumas consequências na infância dele e fumar maconha era uma busca de seu organismo em suprir a ausência de canabinoides.

“Hoje eu entendo o porquê ele fumava. Mas, na época, eu ia nos fliperamas buscar ele. Ele já apanhou muito por conta de maconha”, conta.

5 dias de uso

Não demorou muito para que os benefícios do óleo de cannabis pudessem começar a fazer efeito em Samuel. Com apenas 5 dias ele já apresentava melhora e foi a primeira vez que ele sorriu pra ela depois do acontecido. 

“Um dia a gente estava em casa, no quarto, e eu escutei o Samuel fazendo xixi no banheiro. Aí o choro me tomou, porque ele usava fralda. Ele desceu a fralda, desceu o shorts. Ele não tinha autonomia para fazer nada. A cannabis fez uma neuroplasticidade no cérebro dele. Então, onde os neurônios não trabalhavam, ela criou um outro caminho. Ele tirou a fralda, o shorts e fez xixi. Hoje ele já faz como todos vocês”.

Samuel evoluiu muito. Graças a seu irmão Laerte, sua história começou a ganhar as redes sociais. Seus vídeos passaram a ser compartilhados por muita gente. Afinal, graças ao óleo de cannabis ele voltou a se alimentar, andar, sorrir, pintar – as pinturas decoram a casa da Dona Cleuza -, a ter qualidade de vida.

E Dona Cleuza passou a ser procurada por conta disso. Médicos, pacientes, familiares de todo o Brasil foram atrás da Dona Cleuza. E ela, como uma grande mãe, nunca recusou ajudar ninguém.

“Me vejo na obrigação de ser uma mulher ativista, eu venci o preconceito. O preconceito familiar, o preconceito da minha igreja, porque eu sou uma mulher evangélica há 40 anos. Era parceira do padre Ticão por conta da fé. Fé em Deus e Fé na planta. A gente entende que o diabo não cria sementes do bem. É só Deus é o criador da semente. ‘Eis que eu criei toda erva e toda ela é boa’, está na Bíblia. Quem acredita em Deus pode acreditar na planta”.


Apesar de todos os benefícios que a  maconha pode trazer ao ser humano, ela ainda é proibida no Brasil. E esta proibição causa grandes problemas. Após fazer o curso da Cultive para aprender a cultivar e preparar o seu próprio óleo, ela resolveu plantar cannabis em casa. Até que um dia a polícia bateu em sua porta por conta de uma denúncia. Dona Cleuza e Samuel foram parar na delegacia. Ficaram horas esperando pelo delegado da região. 

“Na hora que o delegado veio e viu o Samuel, ele falou: esta mãe não é traficante, ela é mãe de uma criança especial. Ele me ajudou com o HC (habeas corpus). Aquele que me perseguia, hoje me protege”, conta.

Amparada por este instrumento legal, Dona Cleuza passou a mergulhar cada vez mais e mais no universo da cannabis. No final de 2021, foi visitar a Expo Cannabis no Uruguai à convite da organização. Lá, ela foi uma celebridade. Todos queriam tirar foto com ela, conhecer a sua história e aprender um pouco mais. 

E foi lá, também, que ela fumou maconha pela primeira vez: um baseado de CBD.

“O Dick (Moby Dick é o pseudônimo do ator Ricardo Petraglia, um grande ativista da cannabis) diz que nem é maconha. Mas, eu estava no Uruguai, tinha que experimentar.

Hoje, ao lado dos filhos, ela fundou uma associação: a Cannabis Medical Evolution. Como não deveria ser diferente, Dona Cleuza é a presidenta. Título que ostenta com muito orgulho e, também, muita seriedade.

“É um trabalho que caiu na minha mão. Cuidar do Samuel, cuidar desta semente e ir a luta. Eu quero que meu nome esteja na história desta luta. Quero fazer parte. Não é possível você prender uma pessoa que está fumando uma planta. A nossa luta pelo direito de uso da cannabis medicinal, ou de qualquer forma, porque toda maconha é terapêutica, toda maconha transforma”.

Companheira de greve do ex-presidente Lula na adolescência – Cleuza relembra que ele o ajudou a escapar da polícia federal por conta de uma greve -, ela acredita que todo o uso da cannabis deve ser regularizado.

“Eu amo todos os maconheiros. Vocês trouxeram esperança para as mães. As mães autistas têm esperança porque vocês tiveram coragem. Vocês tomaram tapa na cara por conta de um cigarro de maconha, mas vocês tiveram coragem. Vocês ficaram lá”.

Dona Cleuza é pura esperança. Como uma mãezona, está sempre com algum conselho para dar. Por isso, nós do Weederia, pedimos para ela deixar uma mensagem para as mães neste Dia das Mães.

“O que eu posso dizer para uma mãe atípica, como eu, é que existe uma esperança, que ela vai encontrar um consolo e um conforto no óleo medicinal de cannabis para um filho com problemas neurológicos. E, também, para a filha que já se tornou mãe da sua mãe, porque ela está com Alzheimer, ela vai encontrar no óleo de cannabis a esperança. E, o óleo de cannabis ajuda a proteger os neurônios dos filhos de quem tem Alzheimer, e isso é muito importante que se diga. Então, eu desejo muito cannabis para todas as mães que tem problema, com muita paz e muito amor para todas as mães deste país sofrido como o nosso, mas que vai melhorar”.