À medida que o assunto cannabis medicinal avança na sociedade, vemos determinados padrões se repetirem como, por exemplo, a demonização de determinados canabinoides por uma parcela da sociedade. Existe uma grande linha que fala e repete, sem parar, que apenas o CBD é medicinal. Mas, isso é um completo erro.
Estudos apoiam os potenciais benefícios para a saúde de inúmeros fitocanabinoides, evidentemente que mais estudos precisam ser feitos, mas temos visto que, não é apenas o canabidiol. O THC, por exemplo, tem uma boa aplicação no tratamento de: convulsão, tratamento do câncer, náusea, falta de apetite, insônia e muito mais.
Muitas vezes lemos que o THC é psicoativo. Mas, você sabia que o CBD também é psicoativo? A palavra “psicoativo” se refere a uma substância que afeta o funcionamento do cérebro, como o humor, emoções e comportamento. A cafeína, nicotina, álcool e opioides são, também, substâncias psicoativas.
O THC interage com os receptores CB – CB1 e CB2 – dentro do sistema endocanabinoide e contribui para a manutenção da homeostase nos principais sistemas do corpo. Ele funciona de maneira semelhante a anandamida, um canabinoide endógeno. Ambas as moléculas se ligam aos receptores CB1 e aumentam os níveis de dopamina no cérebro.
Um estudo realizado em 2019, por pesquisadores da Universidade do Novo México demonstrou que o THC tinha a correlação mais forte com o alívio terapêutico.
Uma das principais utilizações terapêuticas para o THC é o controle dos sintomas da dor crônica. Ele é capaz de alterar nossa percepção do foco na dor. E isso é bom o suficiente em termos de fazer com que as pessoas voltem a funcionar em suas próprias vidas.
Uma pesquisa com pacientes incluída no estudo do Current Pain and Headaches Reports (2015), e um estudo do Journal of Pain (2013), descobriu que a cannabis superou os opioides no controle da dor nos nervos.
Sabe-se, desde a década de 70, os benefícios antieméticos da cannabis, principalmente que a estimulação dos receptores CB1 suprime vômitos e náuseas.
Em um estudo duplo-cego, controlado por placebo publicado no Annals of Oncology (2020), os pacientes de quimioterapia tiveram melhora significativa de náuseas e vômitos após o tratamento com canabinóides com THC e CBD.
Há evidências, também, de que o THC pode ajudar, não apenas retardando a trajetória da lesão cerebral à medida que ela ocorre, mas também ajudando a reparar o cérebro. Quando o cérebro é agredido, seja por trauma contundente ou interrupções no fluxo sanguíneo, o glutamato é ativado. O glutamato é um neurotransmissor excitatório e sua ativação (devido à redução do fluxo sanguíneo) resulta em mais danos. O THC impede isso.
Uma pesquisa publicada em Frontiers in Neurobiology (2016), indica que o THC “pode inibir a ativação das células microgliais”. Isso faz com que seja uma ferramenta terapêutica potencial para reduzir a inflamação neural e, assim, reduzir os danos às células neuronais após uma lesão cerebral.
Além disso, também já foi demonstrado que as combinações de THC/CBD ajudam os pacientes de Alzheimer com agressividade. Um pequeno estudo publicado em Medical Cannabis and Cannabinoids (2019), relata que um “extrato oral de cannabis com THC/CBD… foi bem tolerado e melhorou muito os problemas de comportamento, rigidez e cuidados diários em todos os pacientes dementes.”
O THC causa, de fato, a depender da dose, uma sensação conhecida como ‘brisa’, ou alteração na psicoatividade do cérebro. No entanto, existem maneiras de controlar a dose e evitar que sensações desagradáveis ocorram com o paciente.
Estas são apenas algumas das aplicações terapêuticas nas quais podemos utilizar o THC. É claro, como ressalto por aqui em todas as minhas colunas, de que não é uma receita de bolo. Cada corpo possui a sua singularidade e, por isso, cada tratamento deve ser levado de forma individual.
Conheça a Dra. Amanda Medeiros
Dra. Amanda Medeiros Dias (Crm 39.234 PR) é médica com pós-graduação em pediatria e nutrologia pediátrica e, atualmente, está cursando Psiquiatria Infantil pelo CBI Miami. Possui Certificação Internacional Green Flower de Medicina Endocanabinoide.
Com experiência na prática clínica com crianças e adultos, visão integrativa olhando o paciente como um todo, possui experiência prática mesclando medicina com aromaterapia e cromoterapia, com foco na visão holística.
Além de prescritora, é paciente de cannabis medicinal desde 2018. Também é diretora técnica no Instituto Coração Valente e médica voluntária em projetos da UNA (Unidos pela Amazônia).
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