O Brasil acordou hoje com a triste notícia do falecimento da jornalista Glória Maria. Ícone da TV brasileira, morreu no Rio de Janeiro em decorrência de um câncer. Glória, possui uma história ímpar e seu pioneirismo é reconhecido como inspiração para uma geração de mulheres negras no país.

Glória foi a primeira mulher a entrar ao vivo na TV em cores pelo Jornal Nacional, em 1977, foi a primeira repórter a aparecer na TV e realizou a primeira transmissão em HD da televisão brasileira. Foi um ícone. A repórter também a primeira brasileira a usar a Lei Afonso Arinos, que proibiu a discriminação racial no Brasil, em 1951. A lei não considerava o racismo crime, mas contravenção.

Em 2019, numa publicação sua no Instagram, recordou o episódio. “Racismo é uma coisa que eu conheço, que eu vivi, desde sempre. E a gente vai aprendendo a se defender da maneira que pode. Eu tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção. Eu fui barrada em um hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar, chamei a polícia, e levei esse gerente do hotel aos tribunais. Ele foi expulso do Brasil, mas ele se livrou da acusação pagando uma multa ridícula. Porque o racismo, para muita gente, não vale nada, né? Só para quem sofre”, escreveu.

Glória também ficou marcada pelas inúmeras reportagens que fez para o Globo Reporter, onde viajava e apresentava países e suas culturas. Ao longo de sua carreira, visitou mais de 160 países. E, numa destas viagens, para apresentar a Jamaica, ela visitou uma comunidade Rastafari e provou a ‘ganja consagrada’.

‘Todo mundo sabe que na Jamaica tem ganja, tem ganja na Jamaica. A gente fez um levantamento com a produção para entrar numa comunidade Rastafari, a mais radical de todas. Foram três meses de negociação para entrar lá. Aí, um dos regulamentos era: na entrada fazer uma oração, a gente assinou um monte de papel e na saída tinha uma outra oração, só que a gente não leu tudo e tava escrito que ‘na saída tinha que fumar a ganja sagrada’. Ganja sagrada vamos fumar. Só que eu não sabia o que que era esta ganja sagrada e o cara, o rei da comunidade, ele achou que eu não ia aguentar porque ele foi malandro, ele queria me ver ali dura. Só que eu não iria cair. Ele colocou lá, fumou, quando ele me deu, ele apertou e bateu. Porque ele pensou, que se batendo assim ela não ia aguentar. Pois eu puxei duas vezes e aguentei”, contou a repórter quando participou do Roda Viva.

Glória visitou a comunidade Bobo Shanti ou Ethiopia Black International Congress é uma das alas mais ortodoxas do rastafarianismo. Bobo significa negro e Shanti ou Ashanti é a denominação de antigas tribos africanas.

O movimento Bobo Shanti foi fundado em 1958 na Jamaica, pelo príncipe Emmanuel Charles Edwards, considerado por muitos como o Cristo negro. Príncipe Emmanuel, Marcus Garvey e Haile Selassie são considerados parte de uma santíssima trindade. Selassie é considerado como Rei ou Deus, Garvey é considerado um profeta e Emmanuel um Sumo Sacerdote. Os membros do Bobo Shanti vivem separados da sociedade. Sua base fica em Bull Bay, Jamaica.